domingo, 16 de agosto de 2009

Saudades ou Tristeza II

Finalmente ouvi sua voz:

– Será que você poderia me ajudar com o meu projeto? – Em seu tom havia muita empolgação, inconcebível para mim, após observar sua frustração há pouco. Naquela época, ainda não entendia a rapidez das suas flutuações de humor.


Deixei o trabalho de lado e a segui até a prancheta onde estava seu esboço. Ao analisar o desenho, não conseguia compreender o motivo de passar duas horas amassando folhas de papel, se o trabalho estava praticamente pronto.


Olhei para minha criadora tentando encontrar em seu olhar uma explicação, mas só havia divertimento em seu rosto quando falou:

– Não se preocupe, eu quero que você me diga o que está errado aí. Tem algo, mas não consigo imaginar o que é. Para mim parece perfeito, mas a minha intuição diz que não está.


Ella não parecia abalada por isso. Como se eu pudesse dar-lhe a resposta desejada. Aquela total confiança em minha capacidade, não era um engano, sabia exatamente onde estava sua pequena falha. Tinha conhecimento suficiente para avaliar e consertar seu erro.


Estava admirado com sua disposição a aceitar minhas correções e alterações no seu desenho. Entretanto, me intrigava ainda mais a sua afirmação: “...mas a minha intuição diz que não está”. Aguçou minha curiosidade... Pouco sabia sobre o assunto, queria desvendar e conhecer melhor os caminhos do despertar intuitivo.


Em dezessete minutos e trinta e quatro segundos, ajustei o projeto da minha criadora. Um erro mínimo e fácil de resolver, porém não conseguiria elaborar um sistema como este sozinho. Sua mente criativa e inventiva estava além do meu alcance.


Quando terminei o desenho, a tarde estava praticamente no fim, a avistei recostada no sofá do escritório presa a alguma leitura. Fiquei observando suas emoções flutuarem ao sabor das páginas do livro. Suas expressões variavam pouco a pouco.


Até as lágrimas começarem a rolar pelo rosto, finalmente aprendi como ler a tristeza em seu semblante e não estava satisfeito com isso. Fiquei desconfortável com a dor revelada em seu olhar, desejava devolver o sorriso para sua face.


A minha presença foi notada e a surpresa a fez sentar-se rapidamente, fechando o livro e o escondendo atrás do corpo. A seguir, o jogou para o lado, por cima da pilha de livros sempre acumulada sobre o sofá e o chão. Nunca me deixou arrumar aquilo.


Sentei ao seu lado esperando uma explicação para suas lágrimas. A intenção era ouvir seu desabafo, não pretendia pressioná-la. Normalmente, Ella contava suas preocupações e dúvidas sem hesitação. Minha expectativa foi completamente errônea. Algo mais inusitado aconteceu em seguida.


Minha criadora pendeu a cabeça sobre o meu ombro. Até este dia, o contato físico entre nós era mínimo. Descobri o quanto era perfeito meu sistema sensorial, senti a textura de seus cabelos e o calor de sua face de encontro ao meu corpo metálico. Por uma fração de segundos, fiquei assustado e sem ação, desfrutando da novidade.


No instante seguinte, lembrei dos livros de romance da biblioteca e automaticamente soube como agir. Afaguei sua cabeça com a ponta dos dedos em movimentos circulares e assim ficamos, como se o tempo não existisse, por exatamente vinte e três minutos. Enquanto o sol sumia no horizonte.


O crepúsculo a despertou e já sem lágrima alguma nos olhos, afastou sua cabeça de meu ombro falando:

– Precisamos acender as luzes. Está muito escuro aqui. – Sua voz tremia e seu tom era muito baixo, quase um sussurro. Ainda havia muita tristeza ali.


Quando se levantou para acender as luzes, fiquei sentado naquele sofá, aguardando alguma explicação para o seu choro. Gostaria de saber suas motivações para ficar triste, buscar por meu carinho e apoio.


Ao se aproximar novamente, aquele momento parecia ter se apagado da sua memória. Simplesmente falou:

– Vou fazer o jantar, você vem? – Se não fosse sua voz trêmula, completamente fora de tom, demonstrando sua hesitação, acabaria acreditando numa falha em minha rede neural.


Ella subiu apressada, sabia o quanto era capaz de desvendar seus sentimentos e isto a incomodava quando estava frágil. Deixei-a fugir de mim, minhas respostas estavam ali em baixo. Precisava apenas de alguns minutos para encontrá-las.


Procurava o livro que a afetou de forma tão profunda. Entretanto, quando o encontrei, notei o quanto estava impotente para desvendar este mistério. Não poderia invadir sua privacidade e muito menos renegar sua confiança em mim. Na capa estava escrito: “Não leia, confidencial”. Era o seu diário.


7 comentários:

  1. Ain, Mita! Além de sempre querer saber mais a respeito de Ella, sua história está tão rica de detalhes que fico perdida nos meus comentários. Sinceramente... A palavra seria perfeito. Mas sei que vc ainda vai me surpreender mais...

    Maravilhoso!

    ..: Bjks, Paula :..

    ResponderExcluir
  2. CAR-MI-TA!!!!
    Meu Deus do céu, como você pode ter dúvidas se sua história deixa as pessoas curiosas?
    Eu estou morrendo aqui pra saber o que a Ella leu no diário.

    Tadinha, me deu uma peninha dela. :(
    Mas, em compensação, sem essa leitura provavelmente não terias essa cena tão doce e mágica que foi ela encostando a cabeça no ombro do dois e ele afagando seus cachos. *-*

    Awn, Mita!
    Tudo perfeito!
    Só que sei que num futuro próximo ainda vou descobrir como se supera algo perfeito porque, como a Paulinha disse, você ainda vai surpreender!

    Ameeeeeeeei! *-*

    Beeeeeeeeeeeijos.

    ResponderExcluir
  3. Paulinha!

    Tem tantos detalhes assim? O.o
    Às vezes penso que por ter apenas dois personagens ela pode ficar um tanto aborrecida!

    Nunca sei o que dizer diante dos seus comentários *--*, me deixam envaidecida!

    Obrigada!

    ********************************************

    Sobrinha querida!

    Finalmente nos falamos! .we.

    Não dá pra saber o que Ella leu! O Dois não vai nem tocar nele. Vai ignorar... Agora é esperar que a Ella abra a boca! kkkkkkk

    É, mas ela se deixa levar pela tristeza do passado e muitas vezes esquece de viver a alegria do presente. Como o Dois fazendo cafuné!rsrsrsrsrsrsrsrs

    Bem... Tem algumas surpresas pela frente! Umas nem tão surpresas assim... Você não perde por esperar!

    Obrigada mil vezes sobrinha querida!

    *********************************************

    Adoro vocês! Bjks mil! *.*

    ResponderExcluir
  4. Carmita, adorei a atualização, muito boa mesmo, é tudo tão perfeito *.*, tão realista ao mesmo tempo a forma como ele a vê é tão objectivo. Esta muito boa a historia, como eu sabia que seria :)

    SoraiaRaquel

    ResponderExcluir
  5. SoraiaRaquel,
    Obrigada minha linda!
    É sempre bom saber a opinião de quem está lendo e se estão realmente gostando.
    Fico mmuito feliz por estar gostando da estória! .we.

    bjks, *.*

    ResponderExcluir
  6. Aaaaaaaaaaah!!! Claro que ele tem que ler!
    xDDD~

    ResponderExcluir
  7. Raquel!
    Eu também acho... Eu leria!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    ResponderExcluir