sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Conhecendo Ella I

Naquela mesma noite, vasculhei o computador buscando mais informações. Precisava descobrir quem era a minha criadora. Havia informações atuais, as mesmas do meu banco de dados. Registros e documentos de seus serviços de consultoria técnica prestados a empresas especializadas em robótica e mecatrônica. Desde a negociação até o último relatório, resolvido e esclarecido pela internet.


Acessei a rede buscando informações sobre Ella Belmont. Entretanto, no nome dela não havia absolutamente nada. Nem a escritura da Ilha, embora eu soubesse ser de sua propriedade. Ainda estava procurando, quando ouvi o barulho de água caindo no chuveiro. Exatamente às cinco horas, trinta e cinco minutos e treze segundos da manhã.


Desliguei o computador e fui até a cozinha preparar panquecas. Tudo aconteceu de modo automático, meu programa sabia exatamente o que misturar, a altura do fogo, o ponto exato para virar a massa na frigideira.


Em pouco tempo eu estava pronto para servir o desjejum. Neste momento, Ella entrou na cozinha e falou:

– Obrigada por me colocar na cama ontem à noite, eu me distraio trabalhan... – Não completou a frase.


Sua expressão mudou rapidamente e disse:

– Mil desculpas! Esqueci completamente, deveria ter retirado esta parte do programa. Você pode desligar sozinho, rotina 000162. – Seu tom de voz flutuava, entre altos e baixos, graves e agudos.

Para mim, pouco importava, poderia manter aquela rotina para o preparo de suas panquecas toda manhã.


Minha criadora caminhou até a mesa, seu semblante parecia contar uma história, e eu gostaria de ler. Quando puxou a cadeira para se sentar, sorriu e perguntou:

– Porque não me acompanha e aproveita para experimentar suas panquecas? Devem estar deliciosas. – Sua voz voltou ao tom normal suave, doce e profundo. Porém, seu olhar anterior, estava registrado em minha rede neural.


Aceitei, colocando dois pratos, não esquecendo de colocar os morangos e a calda por cima. Ao me sentar Ella comentou:

– Um não podia comer, era muito limitado. Não havia comunicação entre nós. Ele executava as tarefas após várias tentativas, até aperfeiçoar as rotinas e os detalhes das sub-rotinas. – Depois desta frase, comecei a compreender sua entonação e sua expressão facial, ela estava animada.


Minha criadora continuou seu monólogo, devia estar habituada a falar sozinha:

– Você já está mais capacitado, gostaria de ver até onde sua rede neural pode avançar. Espero realmente ter conseguido fazer todas as conexões da forma correta. Se tudo estiver de acordo com meu projeto, sua capacidade de aprendizado é ilimitada.


Era exatamente isso: Eu estava estudando seus movimentos faciais, entonação de voz, intensidade do brilho no olhar. Descobri neste conjunto de expressões em seu semblante a indicação dos seus sentimentos.


Estava na hora de esclarecer minha interpretação:

– Aprendi a ler seu tom de voz. Quando está animada sua voz flutua, em vários tons. Para expressar entusiasmo o tom de voz é agudo, alto e estridente. Sua tranquilidade é expressa em um tom uniforme, mais grave, suave e doce. Gosto da sua voz quando está tranquila.


– Você está aprendendo a decifrar minhas emoções pelo tom de voz apenas? Muito bom! Eu mesma não saberia dizer qual meu tom de voz em cada situação... – Notei certo constrangimento nela, desvendar suas emoções deixou minha criadora insegura.


Desviei de assunto e disse:

– Gostaria de aprender seu trabalho, otimizar nosso tempo. Durante o dia ajudo nas tarefas e posso estudar à noite durante suas horas de sono.


Seu olhar concordava comigo. Percebi haver em meu sistema uma correspondência às suas emoções. Eu questionava se havia algo em minha programação a me fazer sentir animado, quando ela estava.


Depois do desjejum, fomos até a estufa. Ella colocou um enorme chapéu de palha e afirmou ser para proteger sua pele muito clara, enquanto conversava com as plantas. Minha criadora agachava-se ao lado de cada planta e dava pelo menos cinco minutos de atenção a cada uma delas.


Como parecia ser parte das tarefas do dia, agachei ao seu lado para ouvir a “conversa”. Ela usava seu melhor tom de voz e um belo sorriso em seus lábios. Falava sobre o tempo bom e elogiava cada folha e floração. Perguntei intrigado:

– Elas entendem o que você fala? Respondem?


Sua resposta foi ainda mais intrigante:

– Se entendem o que falo, eu realmente não sei. Existem estudos não muito acadêmicos sobre o assunto, todos sugerem funcionar bem. Resolvi aplicar. – Notei certa reticência em sua resposta.


Por isso voltei a questionar:

– E você, o que acha? Funciona?


– Em minha experiência, durante o primeiro ano, muitas plantas morreram, recebendo o melhor cuidado. Quando finalmente me rendi a conversar com elas, nenhuma morreu mais. Há seis anos tenho sucesso com esta pequena horta e minhas flores. – Havia realmente um pouco de descrença em seu tom. O que não fazia o menor sentido para mim.


Ella nem sempre é coerente, parece haver uma falta de coordenação entre suas ações, sentimentos e pensamentos. Pensa de uma forma, age e sente de outra. Naquela época, eu gostaria de corrigir isto.


4 comentários:

  1. Carmita,
    Este Adam é porreta!!!!! Ella vai ficar louquinha com ele.
    Ansiosa para saber no que isto vai dar, rsrsrs.
    Bjkas
    Chrisfried

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  2. Com certeza vai! rsrsrsrsrsrs
    Vai cuidando da ansiedade, porque ele tem a vida todo pra conhecer Ella!
    Brincadeira. rsrsrsrs

    bjks, *.*

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  3. Miiiiiiita!!
    Primeiro de tudo: MIL desculpas.
    Você sabe como ando sem tempo pra nada.
    Espero que você possa perdoar essa sobrinha má. :/

    Mas, agora, sério: Nem sei o que dizer.
    A Paulinha disse tudo no seu post da primeira atualização: é tudo tão bem trabalhado, tão... INDESCRITIVELMENTE PERFEITO que nem há mais o que comentar.

    Mita, sua história é magnífica, apesar de ainda estar bem no comecinho (aliás, finalmente vou poder acompanhar uma de suas obras-primas do início) e imperdível.
    Amei cada detalhe, é tudo tão maravilhoso: os cenários, os personagens, a escrita e, claro, a autora.

    Pode ter certeza de que já está nos meus favoritos e que não vou perder mais nenhuma atuh!
    Mais tarde estarei aqui novamente.

    Beeeeeeijos mil.

    P.S.: A Ella ensinou ao Adam (o Dois é ele, né? É o que dá para se entender pelo título) muito sobre o que ela aprendeu nos livros e sobre várias outras coisas muito importantes.
    Mas acho que é ele quem vai ensinar o mais importante a ela: o poder do amor... *-*
    Ou estou completamente enganada?
    Mita, você já está me fazendo surtar de curiosidade!

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  4. Ingrid,
    Sem problemas! De má você não tem nada.
    Eu aprendi muito com a Paulinha boa parte do mérito é dela.
    Com tantos elogios assim eu nem sei o que responder: Obrigada!
    Quanto a ser ele o Adam... hummmmm
    Não sei se o Dois vai ensinar o poder do amor para Ella. Ainda não está claro isso para mim. Mas com certeza ele vai mexer com o mundinho aparentemente "perfeito e equilibrado" de Ella.

    Te adoro sobrinha querida, beijos mil *.*

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