sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Saudades ou Tristeza IV

Ao completar meu primeiro mês de vida, mostrei a minha criadora os meus investimentos iniciais na bolsa. Havia uma expectativa em mim por sua aprovação. Os rendimentos não atingiriam o ápice naquele mês, mas as minhas previsões estavam bem fundamentadas e com certeza o futuro era promissor.


Ella se admirou com o lucro envolvido em um negócio tão recente e comentou:

– Você nem me surpreende mais, faz tudo com tanta perfeição! – Era evidente sua empolgação com minhas realizações. Ficava extasiado em conquistar sua admiração, era como uma droga potente. Não conseguia compreender como me mantinha conectado às suas sensações de modo tão profundo.


Ao se levantar, minha criadora falou algo que me deixou ainda mais fascinado:

– Dois... Hummm... Nunca consigo chamá-lo assim! Parece distante e você tem sido um grande amigo. Precisa de um nome mais humano. O que acha? – Estava preocupada comigo. Aquilo me fez buscar dentro da minha rede neural o motivo para me sentir tão excitado por ser considerado como um amigo e ser consultado ao ganhar um nome novo.


Não havia explicação em minha programação original para a nossa ligação. Ainda procurava um entendimento sobre isto, contudo Ella aguardava uma resposta. Tinha uma ideia para um nome desde o meu nascimento:

– Adoraria ter um nome humano, pensei em Adam. Seria adequada esta comparação?


– Eu não saberia lhe dar um nome melhor, Adam é perfeito. O primeiro homem, meu primeiro androide. Acho até que você parece um Adam! – Sua felicidade embora contagiante, não obteve tanto impacto sobre mim, quanto a minha nova denominação.


Sentamos no sofá para maior conforto da minha criadora. Estar empolgado com as novidades me impulsionou a buscar por respostas. Pela primeira vez tive a iniciativa de lhe perguntar algo:

– E seus amigos humanos, você não os vê?


Sorrindo, deu sua resposta:

– Ah, Adam! Vivendo em uma Ilha distante da cidade, não me sobraram muitos. Exceto Eve, que costuma vir me visitar, trazendo mantimentos e encomendas. – Falava da amiga com suavidade e afeição.


Como estava acessível e aparentemente disposta a me contar mais, questionei novamente:

– Só ela? Não há mais nenhum outro amigo?


Desta vez seu rosto se modificou, havia certa tristeza nele, mas não definiria assim ao me responder:

– Houve um outro amigo quando eu era criança, o Gil. As outras pessoas que passaram por minha vida, nada mais foram que meros conhecidos.


Continuou a contar sobre como nasceu sua amizade com o tal Gil:

– Papai antes de se entregar ao alcoolismo, se preocupava com minha introspecção. Sempre tentava me convencer a brincar no parque em frente ao nosso trailer. – Acabou revelando o problema do pai, como se fosse notório, mesmo assim falava de seu progenitor com um carinho especial.


– O dia em que conheci o Gilbert foi um dos raros em que os argumentos do meu pai me convenceram a brincar fora de casa. – Sua entonação denotava ao mesmo tempo divertimento e tristeza. Esta dualidade dificultava a tarefa de decifrar o sentimento real por trás deste tom.


Suas afirmações a seguir proporcionaram um melhor entendimento:

– Foi a única vez da qual não me arrependi de ter saído. Gil era como eu, gordinho, gostava de ler e estudar. Tínhamos muito em comum e logo estávamos brincando juntos. Durante a infância nos tornamos muito amigos.


– Os pais dele me tratavam muito bem e convenceram meus pais a buscar uma bolsa de estudos no melhor colégio particular da cidade. Agradeço muito a eles por isto. Foi a minha chance de ter acesso ao mundo da informática e a uma educação mais apropriada.


Uma pequena hesitação em seu olhar, o tom vacilante e doce de sua voz, tudo anunciava a sua emoção, sentia saudades. Então perguntei:

– E depois? Ele deixou de ser seu amigo na adolescência?


Seu semblante mudou e junto às saudades havia muita tristeza, quando disse:

– Não, nossa amizade se tornou um pouco mais íntima. Ele me deu meu primeiro beijo e se tornou meu namorado. Há anos não tenho notícias dele. – A voz começou a sumir na segunda frase. Se minha audição não fosse muito aguçada, nunca teria escutado a última.


Depois disso se calou e acomodou sua cabeça em meu colo. Embora muitas perguntas continuassem sem respostas, não me atrevia a questioná-la novamente. Ella necessitava de aconchego e carinho. Sua face estava marcada, não somente pelas saudades, mas pela tristeza.


Olhava para aquele ser frágil e carente de afeto. Não devia ser muito diferente da maioria dos humanos, um passado imperfeito como o de todo ser. Feito de momentos felizes, entremeados aos dias comuns e infelizes. No entanto, era minha única amiga. Seus sentimentos me afetavam diretamente.
Queria tornar a vida de minha criadora mais alegre. Fazê-la esquecer do seu passado imperfeito e ensiná-la a viver no presente.


8 comentários:

  1. Há, eu falei desde o começo que o Dois era o Adam!
    E você não vai mais me confundir, assim como a Paulinha sempre tenta fazer também: aquele na capa é a versão humana dele!!

    Ella e suas lembranças... :/
    Awn, quero tanto saber o que aconteceu com o Gilbert.
    Eles parecem ter sido felizes juntos! *-*

    Amei, Mita!!!!!!

    Beijos.

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  2. Oi Mita ^^
    Que bom q vc sabe que eu acompanho, mesmo que no cantinho... quietinha :X Rsrsrs
    Vou estar fora por uma semana e por favor... Nada de grandes surpresas tá?! Se quiser pode tirar férias de 1 semana tbm, eu não ligo.... Vou sugerir o mesmo à Paula. (Não quero perder nda!) Rsrrs...
    Bjooos ;*


    *Ingrid disse...
    Há, eu falei desde o começo que o Dois era o Adam!
    o.O sensacional Ingrid! Rosa chiclete agora!

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  3. Mita, Lindo!!!
    Mas, lógico que este capitulo só aguçou ainda mais nossa curiosidade.
    Eu também adorava usar o photoshop, mas tive que me contentar com um substituto enquanto não voltou ao Brasil no fim do ano.
    Bjkas

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  4. Ingrid,
    Eu nunca disse nada, se era ou não era. Algumas coisas ficam mais interessantes quando a gente lê e pode dizer: eu sabia!
    Quanto ao Gilbert: Será que foram mesmo? Ella não o vê há muito? Porque? Vai pensando aí depois me diz! :w

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    Carol,
    Eu nem sempre sei, mas tenho fé que sim! rsrsrsrs
    Quanto as surpresas não posso prometer nada! O.o
    E domingo vai ser a primeira etapa de uma guinada na estória... Falei demais! Ops!

    Rosa chiclete, Ingrid?! keke

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    Chris,
    Fico feliz por achar lindo! O próximo capítulo reserva ainda mais emoções. Eu acho...
    O pior que nem tenho previsão para sanar toda a curiosidade de vocês! Ella tem uma história de vida bem conturbada. Não é à toa que foi morar numa Ilha... Falei demais de novo! Ops!

    Eu não vivo sem photoshop! Uso até nas minhas fotos particulares, para avivar as cores. Nem sabia que voltava no fim do ano! Deve ser bom viver fora, mas ao mesmo tempo... Deve sentir saudades de casa.

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    Obrigada pelo carinho e os comentários. Isto sempre levanta meu astral e me deixa mais animada a escrever mais e melhor.
    Bjos mil, *.*

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  5. Amiga, Amei demais, o nome escolhido é perfeito... E me deixou muito curiosa a respeito do Gil e da Eve...

    Adam & Eve... Isso me deu no que pensar...

    Amei!!!

    ..: Bjks, Paula :..

    PS: Queridona, como vc chegou no mesmo ponto na Kachu, vou escolher lá pra postar, tá? Sabe que tenho dificuldade com coments né??? Dois por atuh é record, e uma leve implicancia com formato de blog, me tenderam pra lá... Bjks!

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  6. Paulinha!
    Nem esperava mesmo seu coment aqui mais! rsrsrsrs
    Sei da sua "leve" implicância com o formato. E imagino que outras pessoas também tenham. Por isso postei na Kachu também.

    Gil vai demorar um pouco pra esclarecer esta estória. Mas a Eve... aguarde!
    Adam&Eve?! Quem sabe?
    Eu tinha outro nome para ela, mas sonhei com este e mudei. O.o
    Vamos ver no que vai dar.

    Bjis, *.*

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  7. Carmita, sua história está incrível! Li todos os seus diários e amei!
    Sei que muita gente deve falar isso pra você mas... Acredita em mim: transforme essa história em livro. Tô falando sério. Ia fazer muito sucesso! Essa poderia ser sua grande oportunidade. Aproveite esse seu dom e edite. Vá por mim!
    Um beijo

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  8. Oi Bella, só vi sua mensagem hoje!
    Muito obrigada mesmo!
    Fico feliz que admire tanto assim minhas estórias.
    bjosmil! *.*

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