sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Simplesmente Eve III

Não havia mais nada a ser dito. Assenti e observei-a sair da estufa, ainda agitada. Teríamos dois dias cheios pela frente. Precisava de uma estratégia para assegurar uma boa convivência com Eve, em benefício da minha criadora.


Segundo Ella, a amiga não acreditava na possibilidade de uma máquina pensar por si mesma, um androide não passava de um robô com uma programação mais avançada. No entanto, este era o seu ponto de vista em relação a artista.


De volta aos meus projetos, analisava um meio de desvendar algo mais sobre sua amiga, necessitava de mais dados. Não poderia voltar a buscar na internet, embora não houvesse uma proibição verbal, minha criadora não aprovava este recurso.


Na véspera de sua chegada, observei melhor a despensa e encontrei telas em branco, pincéis e tintas. Em minha memória a imagem da obra de Eve sinalizava ser este o meu único dado. A melhor forma de conhecer um artista é examinando sua arte.


Procurei por Ella e a encontrei enviando os últimos relatórios. Conseguiu deixar praticamente uma semana livre de trabalho para receber sua amiga. Na maioria das vezes a artista não passava mais de três dias na Ilha. Todavia, minha criadora contava com o humor inconstante de Eve, almejando uma estadia prolongada.


Interrompi seu trabalho para perguntar:

– Posso usar o material de pintura da despensa, telas, pincéis e tintas? Devem ser da sua amiga.


– Ah?! Este material de pintura? Pode sim. Eve largou aqui da última vez, mas sempre traz tintas e telas novas. Nunca os utiliza, está em constante renovação, ela não vai se chatear se usar... Mas... Adam, você nunca quis pintar antes?!


A dúvida surgiu em seu semblante e logo sumiu, concluindo sozinha:

– Reconheço o seu esforço em aprender mais sobre a Eve, mergulhando em sua obra. Nunca me decepciono com sua capacidade de abordar as questões em seus vários aspectos. Constantemente está um passo diante de mim. – Sua aprovação aos meus métodos era evidente.


Encerrou o assunto se voltando novamente para o computador. Fiquei com seu olhar de entendimento em minha memória, sabia exatamente o meu modo de pensar. Escondida por trás de sua fragilidade emocional existe uma mente brilhante, perspicaz e sagaz.


Disposto a reproduzir a pintura de sua amiga, coloquei a tela no cavalete. Verificando os dados na minha rede neural, conclui ser mais apropriado pintar o quadro no sentido vertical. Uma espécie de sensação interna afirmando ser a posição original da obra.


Ao completar os espaços vazios da tela gravados em minha memória, notei o significado daquela pintura. Um interior vibrante, pleno de luz e hermeticamente fechado. A “devoradora de celebridades” retratada pela imprensa sensacionalista era uma parte muito imprecisa da artista, guardava o melhor de si para poucos com a capacidade de compreendê-la.


Estava terminando a pintura, quando senti seu perfume e ouvi a voz doce de minha criadora:

– Está muito bom, acho que se Eve tivesse acabado esta tela, ficaria exatamente assim. Agora entendo porque nunca a finalizou, não tem a costumeira energia dela.


Ella estava ligeiramente admirada com o trabalho e principalmente com a amiga, então comentei, dando minhas últimas pinceladas:

– Talvez ela tenha muitas emoções represadas e procure uma vida cheia de aventuras para mantê-las ocultas. Quando percebeu o que estava pintando, desistiu da tela.


Pousei o pincel e minha criadora se voltou para mim dizendo:

– Adam, você me surpreende a cada dia. Com certeza sabe avaliar um caráter melhor do que qualquer outro ser. – Seu olhar e seu sorriso pareciam gratificar-me, enquanto apoiava sua mão suavemente em meu ombro. Um gesto repleto de carinho e apreciação.


Ficamos olhando para tela, decidindo como agir diante de nossas descobertas. Compenetrados em desvendar um pouco mais da artista e decidindo se contaríamos ou não sobre a minha reprodução. Resolvemos guardar na despensa, pelo menos até a sua chegada.


No dia seguinte, às dez horas, quarenta e sete minutos, vinte e três segundos da manhã, Eve chegou pilotando seu helicóptero. O som ensurdecedor da máquina sobrevoando o litoral, a areia e a água do mar agitados anunciaram sua presença antes mesmo de a avistarmos.


Fiquei impressionado por ela pousar tão próxima da casa. Mas minha criadora não estava nem um pouco preocupada. Olhei para dentro da cabine e lá estava sua estimada amiga. Seu olhar ansioso me surpreendeu por um momento. Não havia nada de simples em Eve.


6 comentários:

  1. Mitaaaaaa!
    Primeiro demorei um tempão para conseguir abrir o blog (só gosto de ler por aqui), tava dando erro direto.
    Depois que finalmente consigo e leio, quando vou para a Kachu comentar, também não consigo entrar lá de jeito nenhum! ><'

    Mas enfim (depois vou fazer um coment melhor, quando lá voltar ao normal), AMEI a atuh, Mita!
    O Adam é um fofo e a Eve, como eu já tinha dito, não parece mesmo ter nada de simples! :D

    Beeeeeijos.

    P.S.: Como você para nessa parte?
    Quero logo saber como vai ser a estadia da loira e a convivência dela com o Adam.
    Será que meu sonho foi premonitório? :x

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  2. Ingrid!
    Vai entender... Eu posto aqui mais cedo, mas acabo encontrando erros e corrijo. Vai ver é este o motivo da página dar erros. Deve ser quando estou publicando novamente.

    Não... A Eve não é nada simples.
    Parei aí porque tinha que parar em alguma parte! O.o
    Será? Mas adiante você vai descobrir! rsrsrsrsrs

    Bjos mil, *.*

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  3. Você só pode estar querendo me matar não negando as minhas perguntas.
    Vai me deixar louca!!!

    :*

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  4. Eu não nego nem afirmo! O.o
    E não quero deixar ninguém louco não!
    Dizendo sim ou não acabo estragando as surpresas no futuro. :P

    Bjos, *.*

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  5. Mita!
    Perfeito como sempre!!!
    A história está super envolvente e não vejo a hora de ver como será o encontro de Eve e Adam.
    Bjkas

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  6. Obrigada, Chris! *.*
    Já postou lá? Vou dar uma olhada mais tarde!
    Primeiro preciso fazer o encontro dos dois acontecer pra você poder ver! É hoje! rsrsrsrsrs
    bjos, *.*

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