quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Saudades ou Tristeza III

Depois deste dia, me conscientizei sobre as respostas não virem prontas e objetivas como gostaria. Deveria utilizar melhor meu potencial nas atividades para as quais estava capacitado a compreender sozinho. Por isso, mergulhei com afinco nas tarefas diárias, dediquei meu tempo a entender seu processo criativo e a aprender como sua mente funcionava, estudando seus projetos.


Em pouco tempo executei minha primeira criação: um novo sistema para os robôs de vigilância. Ella o aprovou de pronto e me parabenizou não só pelo aprendizado, mas pela capacidade inventiva.


Uma vez por semana nós caminhávamos pela praia em busca destes pequenos vigilantes, para verificar seu bom funcionamento. Gostava desta caminhada, em especial, por sua alegria envolvente e contagiante. Minha criadora adorava estes passeios pela Ilha.


Desta vez, além de fazer a manutenção, nossa intenção era implementar o meu novo sistema. A costa da Ilha é pequena. Normalmente, fazíamos todo o percurso entre cinco a seis horas a pé.


No entanto, neste dia demoramos um pouco mais, devido ao novo projeto. Exigiu mais tempo e cuidado. Ao terminamos todo o trabalho, o sol estava baixo no céu. E apesar de muito animada com o perfeito funcionamento das novas adaptações, Ella estava exausta.


Sugeri sentarmos sobre a areia até o final do crepúsculo. Minha intenção era deixá-la descansar antes de voltarmos para casa. Contudo, acabei apreciando ao seu lado o mar ser tingindo de vermelho, enquanto o sol mergulhava nas águas, desaparecendo gradativamente na linha do horizonte.


Sem motivo aparente, começou a falar sobre a família, como se olhar para aquele belo espetáculo da natureza lhe trouxesse recordações dolorosas:

– Lembro de uma época em que meus pais pareciam felizes juntos. – Seu tom de voz não condizia com a suposta felicidade dos pais.


Sua frase a seguir explicou o motivo da tristeza e desolação:

– Quando papai foi demitido, investiu todo o seu dinheiro na bancada de brinquedos e tudo mudou. Mamãe brigava com ele exigindo que arrumasse um emprego seguro.


– Eu ficava triste com aquelas brigas, não sabia como reagir. Nosso trailer era pequeno e eu acabava escutando cada palavra. – A esta altura, sua voz estava trêmula, porém o sol baixo não me permitia observar seu rosto. Mesmo assim, não havia dúvidas, estava muito abalada.


Não resisti, procurei dar-lhe algum consolo e falei:

– Eles não deviam perceber que você poderia escutar.


Minha criadora respondeu um tanto reticente:

– De início acredito que não... Mas com o tempo eles nem se preocupavam mais em esconder. O clima em casa era sempre tenso. – Desta vez pude notar um suave brilho de uma lágrima deslizando por sua face. A tristeza estava enraizada em seu coração, ver os pais brigando não fez bem à pequena Ella e mantinha a adulta infeliz.


– O pior mesmo é que após as brigas o papai saía de casa correndo. Nós ficávamos olhando ele partir e sabíamos, só voltaria de madrugada, completamente bêbedo. – Uma revelação pela metade; passei a me questionar se seu pai era alcoólatra.


– Sem razão alguma, mamãe brigava comigo me mandando engolir o choro. Dizia que ele não merecia as nossas lágrimas. – Junto ao silenciar de sua voz, os últimos raios de sol sumiam mar adentro.


Sem falar mais nada, se ajeitou, deitando sobre o meu colo. E ali ficamos, até o sol desaparecer por completo do céu rubro. Desejava dar a Ella um pouco de afeto, queria apagar aquela infelicidade de seu peito. Entretanto, estava receoso, não gostaria de vê-la fugir de mim como na outra tarde.


Após cinco minutos e quarenta e três segundos em meu colo, seu estômago roncou alto. Em um átimo, minha criadora se levantou em silêncio, estava envergonhada. Sabia os motivos do seu embaraço, não só por buscar meu consolo, mas pelo seu corpo implorar por alimento.


Levantei-me em seguida e lhe dei minha mão para segurar. Aceitou sem titubear. Ainda estava frágil, por todas as revelações realizadas durante o pôr do sol. No entanto, parecia finalmente confiar em mim.


Enquanto caminhávamos de volta para casa, sua face tocou meu ombro. Neste instante descobri uma das razões pelas quais fui criado, Ella se sentia solitária. Poderia encerrar sua solidão simplesmente voltando a viver na cidade. Porém, há sete anos vivia isolada do mundo em sua Ilha particular. E eu não compreendia o motivo de se manter distante da civilização.


7 comentários:

  1. Oi,Mita! Outra personagem que os pais brigam os fãs, só vão chorar com a gente; mas acho que já falei demais.
    Como sempre episódios emocionantes.
    Bjkas

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  2. Carmita atualização magnifica :) por favor me diga qual é o seu editor de imagem *.* as fotos estão fantasticas!

    Beijinhos

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  3. Oi Mita!
    parabens pelo diário, como te disse estou adorando...
    Belo trabalho...
    Bjooos

    Carolina Barbizan.

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  4. Coment rápido que eu acabei de chegar e tô exausta!
    Amei tudo amiga! Está cada vez melhor e mais instigante. O resto nem precisa falar, vc e td mundo que lê tá careca de saber.

    Que linda amizade está nascendo aí...

    ..: Bjks, Paula :..

    PS: Esse coment aí de cima deletado é meu. Essa droa da Zá estar usando meu PC logou com a senha do namorado! ¬¬ Ninguém merece!

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  5. Antes de mais nada: muito obrigada pelos elogios. Minha alegria é saber que estão gostando da estória e das fotos. Procuro sempre dar o meu melhor.

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    Chris (posso te chamar assim?)
    Olha lá o que você está aprontando! rsrsrsrsrs
    O passado de Ella é bem conturbado! Mas acho que é rara a pessoa que tem um passado sem problema algum.

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    Oi SoraiaRaquel,
    Eu uso o photoshop CS2 para editar as fotos, mas a luz avermelhada do crepúsculo e o céu com nuvens é uma iluminação especial que baixei no MTS.

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    Carooooooooooooooooooooool
    Obrigada querida! Eu sei que costuma ler minhas estórias quietinha... Mas sempre quero saber se está gostando! rsrsrsrsrsrs

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    Paulinha!
    Já apaguei viu?
    É os dois estão realmente apreciando a companhia um do outro. Ella precisava de um amigo constante.

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    Mais uma vez agradeço o carinho de vocês!
    bjks, *.*

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  6. Mita, eu juro a você que comentei ontem, juro!!
    Mas só agora vi que meu comentário não enviou. :(

    Awn, mas tá tão linda essa amizade que está se fortalecendo cada vez mais.
    As fotos deles dois juntos são tão fofas!! *-*

    E me deu uma peninha da Ella quando criança.
    Será que em alguma noite dessas quando o pai dela ficou bêbado, ele acabou fazendo alguma besteira? :(

    Ameeeei!!!

    Beijos.

    P.S.: Amanhã já é sexta... Adam... .sinistro.

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  7. Ingrid,
    Nem precisa jurar!:P
    Que bom que gostou das fotos!
    Esta amizade parece até improvável. Mas a curiosidade dele é tão grande, que se envolveu com ela e acabou desenvolvendo bons sentimentos em relação a sua criadora.

    Ella realmente teve uma infância um tanto amarga. Nem sei ao que você está se referindo... Mas todo bêbedo faz besteiras! keke

    Estou feliz que tenha gostado.

    É amanhã... rsrsrsrsrsrs
    bjos, *.*

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