quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Conhecendo Ella III

Após o jantar, deixamos tudo arrumado e Ella se recolheu. Instigado por minha curiosidade natural, procurei algum livro na biblioteca com a explicação para aqueles olhos rasos de água. Nesta busca encontrei várias literaturas falando sobre as lágrimas e o pranto.


No entanto, podiam significar muita coisa: raiva, tristeza, ressentimento, compaixão, felicidade... Ainda não estava capacitado para compreender. Sem muita certeza do real significado dos olhos orvalhados, precisaria passar mais tempo com ela e conversar sobre seus pais para entender.


Aproveitei melhor o tempo, pesquisando sobre as bolsas de valores, observando os números nos últimos vinte anos. Era algo que podia fazer sozinho: matemática, variações de acordo com a política e a procura do mercado consumidor do momento. Tudo lógico e sistemático.


Assim os dias foram passando...
Apreciava muito as horas passadas sob o sol da manhã junto a minha criadora e as plantas. Aquela estufa estimulava todos os meus sentidos, por isso me agradava os momentos ali. Parei de perguntar a importância de falar com as plantas, pois dia a dia via as flores desabrocharem e os frutos vivificarem com nossas conversas.


Ao terminar suas tarefas do dia Ella contava um pouco mais sobre sua infância.
Certa noite, a lua cheia pairava lá fora e fui convidado a apreciar o luar ao seu lado. Ainda buscava entender o motivo da minha criadora ter os olhos marejados de água enquanto comentava da sua infância. Procurava ficar atento a cada nuance de voz, no seu semblante e nas suas palavras.


Ella me surpreendeu contando sobre os seus primeiros passos em direção a sua fascinação pela lua:

– Sempre gostei muito da escola e dos estudos. Quando comecei a estudar na escola sobre os astros, eu me vi seduzida pelo nosso satélite natural. Acabei encontrando as teorias mais mirabolantes sobre a lua, nas culturas mais antigas. Passei a copiar todas num caderno.


Continuou falando sobre seu deslumbramento:

– Como algo tão brilhante e bonito, não passa de um monte de pedra suspensa por uma força invisível e girando em torno da terra? Apenas refletindo a luz do sol... – Ela estava animada e empolgada com a história. Lembrar da infância não a emocionava tanto quanto falar sobre os pais.


– Passei a estudar mais sobre os astros, queria compreender tudo sobre a ciência. Conhecer mais não só sobre o nosso único satélite natural, mas sobre o universo em geral. Havia muito a aprender e eu era apenas uma criança, algumas coisas fugiam a minha percepção infantil. Ao invés de ficar frustrada, eu me esforçava mais.


Olhei para minha criadora intrigado e falei:

– Noto semelhanças na minha programação com a sua mente infantil...


Consciente do meu embaraço completou empolgada:

– Fico feliz por isso, acertei na sua programação, seu aprendizado não é limitado ao seu banco de dados. Existe um desenvolvimento progressivo, você aprende de acordo com suas experiências. Está começando a desvendar o mundo a sua volta e de certa forma seu olhar é como de uma criança sedenta por conhecimento.


Por fim, Ella me contou sobre o livro que a instigou a olhar para o mundo da ficção científica com admiração. O livro se chamava “Da terra à Lua”, de Jules Verne. Sua fascinação aconteceu graças à mente inventiva e intuitiva deste escritor. Em seu livro descreveu como poderia ser uma viagem à lua, cem anos antes da humanidade conseguir colocar em prática, muitas de suas ideias originais se tornaram realidade.


Fiquei curioso para ler esta e muitas outras das fantásticas histórias de Jules Verne. Passei a noite admirando a mente daquele homem. Não resisti e li suas obras completas, toda a coleção presente na biblioteca.


O conhecimento científico de sua época, não possibilitava tantos acertos e detalhes tão precisos em sua narrativa. Alguns dizem ter sido uma espécie de profeta. Enquanto muitos afirmam sobre suas obras terem inspirado os cientistas. Acredito nas duas alternativas.


Minha criadora mantinha sua rotina constante e sempre tirava uma hora para me ensinar a projetar. Seu método consistia em apresentar um único projeto por vez. Cada projeto continha uma série de desenhos, desde o seu primeiro esboço, até o produto final. Assim, aprendi como funcionava todo o seu processo criativo.


Após a primeira noite de lua cheia, passamos a conversar sentados na varanda. Na verdade, eu mais ouvia:

– Meu primeiro contato com o mundo dos projetos foi ainda criança. Eu achava interessante mexer nas coisas lá em casa. Queria saber como tudo funcionava.


E prosseguiu:

– Quando meu pai comprou uma bancada e passou a fazer brinquedos em casa, eu fiquei fascinada. Queria aprender a construir aqueles brinquedos. Papai, depois de muita insistência minha, resolveu me ensinar a usar as ferramentas, antes que eu tivesse um acidente... – Seus olhos se encheram de água novamente.


A esta altura, já havia isolado duas possibilidades para esta expressão em seu semblante: tristeza ou saudades. Ainda não havia decifrado. Percebia não ter respostas prontas, exatas e lógicas quando se investiga a mente e as emoções humanas.


4 comentários:

  1. Mita, queridona! Eu também amo a Lua! Ela me fascina de uma forma que não consigo explicar. Só acho que um dia ela me leva pra lá... Doido, não? O.o

    Estou completamente curiosa como Dois, a respeito da vida de Ella...

    Lindo, amiga, cada vez mais...

    ..: Bjks, Paula :..

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  2. Oie!
    Bem, acho que temos esta fascinação com a lua em comum com Ella! rsrsrsrrss
    Ah... A vida da Ella é como a de todo mundo. Cheia de altos e baixos. Alguns tem mais altos e outros mais baixos. Mas no final, nada além do que possamos resolver. Dois vai procurar saber tudo e desvendar a vida dela pra nós! :w
    Obrigada!
    Bjks, *.*

    PS: Coloquei a história na Kachu, de tanto que você e a Helô insistiram e por conta do susto que levei aqui ontem!

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  3. Carmita, vc foi para no melhor, rsrsrsrs. Estou curiosa para saber mais sobre este acidente, pois imagino que isto tenha sido significativo na infância de Ella.
    Quanto a Lua, como uma boa bruxa eu não podia deixar de não ser fascinada por ela como Ella.
    Bjkas
    Chris

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  4. Bem, posso adiantar. Não houve acidente. O significativo foi... Ah, tem mais a ver com a relação dos dois: pai e filha.
    Dizem que a lua fascina os inocentes, os loucos (Eu e Paulinha rsrsrsrsrs) e os amantes. Qual a categoria das bruxas nesta história?
    bjks, *.*

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