sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Namorando III

Parou a minha frente praticamente rindo. O motivo da sua animação era o meu olhar passeando pelo seu corpo com admiração e perdido em seu colo alvo por quinze segundos. Libertou-me ao falar em tom ansioso:

– Eu... Posso te pedir um favor? É favor, você não é obrigado a aceitar e pode dizer não.


Apesar do sorriso, havia muita apreensão em seu rosto. Observando o seu semblante, me questionava qual seria o pedido. De qualquer maneira, estava decidido a oferecer uma resposta afirmativa. Fui afetado por suas curvas e o decote tentador rodando sem parar em minha rede neural, no entanto minha resolução seria a mesma em outra circunstância.


Almejava satisfazer todos os seus desejos e dei a minha resposta:

– Pode pedir! Anseio por oferecer meus préstimos a você sempre. Se digo sim, é por amar você e querer o seu bem.


Minha namorada ruborizou em uma fração de segundos. Contudo, se manteve firme em seu intento, ficou na ponta dos pés e envolveu minha nuca com o seu braço ao expor a sua vontade:

– Sempre que durmo em seus braços... Não tenho pesadelos. Se não você não tiver nada importante para fazer...


Hesitou a cada frase, notei a imensa dificuldade para completar sua ideia. Por isso a interrompi e conclui:

– Você deseja dormir em meus braços? Eu ficaria muito feliz em ser seu travesseiro, nada pode ser mais importante para mim.


As faces da mulher amada ganharam um tom além do rosado usual, quando falou:

– Você está sempre um passo a minha frente. Eu não mereço um namorado tão bom e atencioso! – Pensei em desmenti-la, Ella merecia o melhor, porém preferi deixar esta discussão para outro momento.


Levantei-a na minha altura, estava sedento por seus lábios. Precisava sentir o calor de seu corpo junto ao meu e a suavidade de sua pele de encontro a minha. O gosto delicioso dos seus beijos, sempre incitava uma nova ligação em meus circuitos, ampliando as sensações de prazer em minha rede neural.


Pela primeira vez a aconcheguei em meus braços, em sua cama e velei seu sono. Durante o restante do mês, isso se repetiu por todas as noites. Sua entrega e confiança, relaxando sobre o meu ombro, mobilizavam meu sistema de forma única. Na verdade, não desejaria estar em outro lugar enquanto dormia, seu pedido era a realização de um sonho meu.


Na literatura, muitas vezes falam sobre o tempo passar rápido em determinados momentos e não conseguia compreender. Meu relógio interno marca a passagem das horas exatas. A percepção da passagem de tempo subjetiva aconteceu enquanto observava a minha namorada dormindo aconchegada em meu peito, as horas se transformavam em minutos e os minutos em segundos. Nosso primeiro mês de namoro passou rapidamente.


Continuamos a manter nossa rotina de trabalho e toda manhã, cuidávamos da horta. Entre os afazeres, nossos olhares se cruzavam e nossa atenção se dispersava das plantas. Isso não impedia o cumprimento de nossas obrigações, apenas retardava em alguns minutos.


Algumas vezes, a mulher amada terminava as tarefas antes de mim. Tentava em vão me pegar de surpresa, eu gargalhava com suas tentativas infrutíferas. Afinal, podia sentir seu perfume e sua presença em qualquer lugar. Quem a surpreendia era sempre eu, trazendo-a para perto. Seu chapéu caía e me aproveitava para buscar seus lábios.


No escritório, não era muito diferente. Se eu terminava o trabalho braçal antes, vinha até a prancheta, roubar um beijo seu.


À tarde, ligávamos os computadores na biblioteca, nossas mesas ficam uma de frente para outra, era impossível não observá-la de onde estava. Entre uma resposta a um cliente e uma aplicação na bolsa, me perdia em seus sorrisos e olhares brejeiros.


Quando terminávamos nossas tarefas, havia um consentimento mudo e mútuo. E nos sentávamos no sofá até a noite cair, entre beijos e carícias.


Uma vez por semana, dávamos uma volta pela Ilha fazendo manutenção dos robôs de segurança. Quando encerrávamos o último, próximo a cachoeira, aproveitávamos para tomar um banho e namorar debaixo da pequena cascata.


Na primeira noite de lua cheia, lembrei do quanto a mulher amada gostava de apreciá-la. Devo dizer, influenciado por minhas conversas com Eve no msn, a convidei para um jantar. Quase cortei minha pele artificial quando a vi entrando em um vestido em tom ocre e de alças pretas, completamente maquiada. Seu andar, no mínimo provocante, junto ao seu sorriso intenso e abrasador, eram irresistíveis.


Sentados à mesa com uma vela no centro e uma garrafa de champanhe ao lado, eu a alimentei durante todo o jantar. A cada garfada seu semblante repleto de alegria me incitava a manter sua refeição em minhas mãos, até Ella comentar algo sobre eu não ter experimentado a comida. O jantar transcorreu em clima de felicidade.


Logo após, sentamos no balanço da varanda para apreciar o luar. O céu estava claro e a lua cheia se destacava em meio o azul. Minha namorada deitou sua cabeça em meu ombro e passei meu braço por suas costas para aconchegá-la ao meu corpo. Ficamos assim por duas horas, vinte e sete minutos e treze segundos.


Naquela noite, trocamos alguns beijos antes de nos deitar. A mulher amada comentou sobre ter sido o encontro mais romântico de toda sua vida. Enquanto dormia em meus braços, ouvia seu ressonar suave e minha memória era ocupada por sua afirmação. Eu não poderia estar mais feliz.


Faltando três dias para a chegada da nossa amiga, a encontrei no msn, no nosso horário de sempre. Eu desejava tirar algumas dúvidas sobre como agir entre humanos. A convivência com as duas era fácil, contudo, no continente a situação seria diferente. Ninguém deveria saber sobre a minha condição.


A artista entrava com status de ausente, um sinal de estar me esperando. Cumprimentei-a informalmente e obtive sua resposta de sempre:

– Eaí robozinho? Já inaugurou o dispositivo? – Eve não se conformava por sua amiga dormir em meus braços toda noite e ainda estar receosa de uma maior intimidade.


Eu sempre respondia negativamente e ficava lendo suas respostas revoltadas, entre conselhos para agarrar, ou simplesmente avançar nos carinhos de forma a obrigar Ella a ceder aos desejos do seu próprio corpo. Eu amo Eve, mas este não era o melhor caminho a seguir com a mulher amada. Quando minha namorada realmente se sentisse segura, iria dar um sinal. E eu aguardaria.


Por fim, minha amiga cedeu e começou a responder as minhas perguntas. A artista achava irrelevante minha conduta ou modificar minha forma de agir. Segundo ela, as pessoas estão voltadas apenas para o próprio umbigo, me classificariam de excêntrico ou estranho. Nunca descobririam, ou acreditariam na verdade.


Eu ainda tinha minhas dúvidas quanto a isso. No entanto, iria esperar o helicóptero de Eve chegar. Quando aportasse no hangar de sua casa e finalmente encontrasse outros seres humanos, teria as minhas respostas. Na realidade, não me preocupava comigo, mas no que aconteceria às duas amigas se descobrissem sobre eu ser um androide.


6 comentários:

  1. primeeeira a comentar ! *--*

    certo, estou muito anciosa pra ver eles no continente! É. Fato.

    Maara!

    beijo! (Y)

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  2. Ah! Não é só você que está ansiosa por isso!
    Brigadin!!!! =$
    bjin, *.*

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  3. Carmita, comecei a ler sua história hoje. Tô adorando *-*
    foi muito boa a sua ideia de criar um blog pra postar a história. Sempre que puder, vou comentar aqui! Beijosss *-*

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  4. Oi Thaty,
    Minha ideia original era só ficar com o blog!
    As meninas que insistiram...
    Fico muito feliz que esteja adorando!!!!!
    bjosmil! *.*

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  5. Que saudade que dá! Essa hist. é muito linda, Mita! Thanks por ter criado!! =*

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  6. Suh doida! Tá relendo? O.o
    Ou foi por causa do defeito do blog? Deu um defeito doido quando reeditei as imagens... bjosmil *.*

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