sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Mudanças II

Após três horas, dez minutos e trinta e dois segundos de voo, avistamos a enseada onde a artista mora. Sua casa tem um heliporto acima da sua garagem e fica num condomínio exclusivo à beira mar, do qual é a proprietária. Garantindo sua total privacidade, tanto os moradores quantos os frequentadores do clube do condomínio, precisam passar pelo seu crivo.


Ao pousarmos, avistei um homem esperando nas escadas. Eve veio comentando sobre o casal Farmmer, eles trabalhavam em sua casa há seis anos e eram a sua família agora. Raramente mencionava os seus parentes de sangue, sabia apenas sobre os dois irmãos mais novos. O homem só poderia ser George.


Estava muito animado com a possibilidade de encontrar novas pessoas. Era incrível conhecer pessoalmente o meu primeiro espécime masculino da raça humana. O ruivo de olhos azuis, de tonalidade escura, usava uma barba rala e uma boina desengonçada. Tinha uma aparência simpática e humilde.


Saímos do helicóptero e caminhamos na sua direção, nossa amiga me apresentou em seguida:

– George, Ella você já viu por aqui outras vezes... O bonitão é o seu namorado, Adam. – e pediu gentilmente – Pode tirar as malas para mim? Meu horário está apertado hoje!


O empregado nos cumprimentou de longe e depois desatou a rir dizendo:

– Quando não está? Podexá comigo, vou levar direto para o quarto! – pegou fôlego antes de completar – Não precisa se preocupar com a sua viagem Dona Eve, Suzy arrumou suas malas ontem. Passei no aeroporto às dez da manhã e fiz o seu check-in. Só precisamos chegar lá minutos antes do voo partir.


A artista encerrou a conversa com um elogio sincero:

– Não sei o que faria sem vocês dois! – O homem sorriu, abanou a cabeça e se afastou para realizar a tarefa solicitada.


Descemos as escadas e passamos pela garagem, onde estavam três motocicletas no canto, um carro conversível e um Off Road. Eve apontou para os veículos e disse:

– Podem usar qualquer um deles, exceto a minha primeira moto. Ella sabe o quanto a prezo. Se preferirem, George pode levá-los a qualquer lugar. – Apenas assentimos e continuamos nosso caminho até a casa.


Foi uma surpresa quando vi a gata preta da artista correndo pelo jardim em sua direção e observei a agilidade com a qual se jogou em seu colo pedindo carinho. No entanto, o mais admirável foi o seu olhar fixo em mim. Seus olhos verdes, um de cada tonalidade, anunciavam como faróis reluzentes a verdade sobre o meu ser. Lila reconheceu, através do seu olfato apurado, a minha identidade inumana.


De início, fiquei muito excitado apontando para o bichano, não acreditando ao visualizar o meu primeiro animal de estimação. Na Ilha, havia me deparado com cobras, peixes, crustáceos, pássaros, alguns roedores e vários insetos. Todavia, aquele era o primeiro espécime com o qual poderia interagir afetuosamente.


Nossa amiga se virou para mim, ainda com a gata no colo e disse:

– Porque não a pega Adam? Lila é inteligente e reconheceu você do meu atelier. Gostava de se esfregar em suas pernas, quando era apenas uma escultura... Com certeza vocês vão se dar bem.


A gata desceu agilmente do colo de sua dona, sentou-se sobre as patas traseiras a minha frente e elevou a pata direita para mim. Segurei-a e balancei me apresentando. Ela olhou para mim curiosa e me aceitou rapidamente. Afaguei sua cabeça sentindo os pelos sedosos, sua pele quente e seu corpo vibrar com o carinho. Almejava me relacionar um pouco mais com o pequeno animal durante a minha estadia.


Logo ao entrarmos em casa, uma bela senhora morena de olhos castanhos, com os cabelos pretos presos em um coque severo, se aproximou. Era a governanta de Eve, Suzanna Farmmer. Havia elegância em seu modo de andar e percebi ter uma altura aproximada a da Ella, calculei um metro e sessenta e quatro centímetros.


Acenou para nós em reconhecimento e falou com Eve:

– Está tudo pronto! O quarto deles exatamente como a senhora sugeriu, vou preparar um lanche leve como gosta antes de viajar, agora mesmo. – A mulher parecia ansiosa por agradar.


A artista olhou para sua empregada de cima a baixo e ironizou:

– E por que agora eu sou senhora e você se veste como uma matrona? Ainda me chamo Eve e não gosto de ver vocês usando uniformes!


Sem perder a compostura, Suzanna respondeu de forma maternal:

– Eve, posso até chamar você pelo seu nome, mas ainda tenho meus brios como governanta. Não posso aparecer para seus visitantes sem uniforme, me contratou sabendo que prefiro usá-lo quando estou de serviço. Então não tem motivo para se queixar disso.


Nossa amiga finalizou a discussão, reconhecendo o seu excesso:

– Desculpe Suzy... Você ainda não conhece o Adam. – apontou para mim direcionando o olhar da governanta e completou pedindo – Pode mostrar o quarto que preparou para os dois enquanto me troco? Ella não sabe qual eu escolhi para eles.


Suzanna olhou para mim risonha e comentou:

– É um rapaz de sorte por fisgar a Dona Ella. Não existe moça mais doce e gentil. – eu apenas meneei a cabeça concordando, antes dela mudar o assunto e dizer – Vamos? Não posso atrasar a saída da Eve.


Enquanto, a governanta nos conduzia para a porta em frente, a artista entrava na porta contrária. A casa era muito grande. Naquele mesmo dia, descobri o motivo da nossa amiga subir por outro caminho, era a entrada mais próxima do seu quarto. Dava acesso a sua sala particular, onde poucas pessoas eram autorizadas a circular.


Subimos as escadas pela sala de jantar e no segundo andar, na primeira porta à direita, Suzanna parou e disse:

– Espero que gostem das acomodações, se precisarem de qualquer coisa é só me chamar. George já deixou as malas aqui em cima, mas ainda não tive tempo para desfazê-las. Durante o almoço eu arrumo suas coisas. Vou servir ao meio-dia.


A mulher amada repreendeu Suzy com doçura e um sorriso:

– Nada disso Suzanna, eu e Adam podemos arrumar nossas coisas. Além de ter que satisfazer todos os caprichos de Eve, já tem muito trabalho nesta mansão.

A governanta apenas concordou com um aceno de cabeça e desceu as escadas sorrindo. Realmente gostava da Ella.


Ao entrarmos no quarto, notei, não só nossas malas sobre o chão, mas a presença de Lila. A gata sorrateira entrou no quarto sem ser vista pelos empregados. O amplo cômodo tinha uma varanda de frente para a rua e era decorado com elegância, muito convidativo e aconchegante. Os móveis aparentemente eram antigos, entretanto muito bem conservados. Percebi logo uma garrafa de champanhe sobre uma mesa próxima a cama.


Meu escrutínio foi interrompido pela a voz ansiosa da minha namorada logo atrás de mim:

– Adam... – Ella hesitou até conseguir falar de supetão – Você não me beija desde ontem na praia! – Após pronunciar toda a frase, suas faces ganharam um adorável tom rosado, mesmo assim sorriu para mim.


Não havia me esquecido deste detalhe, desejava beijá-la há exatamente dezesseis horas, oito minutos e quarenta e dois segundos. Desde o nosso último beijo, no início do crepúsculo do dia anterior. Puxei-a de encontro ao meu corpo, sorvi o doce sabor dos seus lábios e boca, fazendo valer todo o meu anseio de tê-la em meus braços. Mal registrei a saída da gata do quarto.


Após o nosso longo beijo, a mulher amada disse:

– Gostaria de ficar assim com você até a hora do almoço, mas é melhor desfazermos as malas antes. Suzy pode ser persistente e vir aqui enquanto almoçamos. Não gosto de dar trabalho a ela. – E durante os vinte e um minutos e treze segundos restantes, foi o que fizemos.


Descemos dois minutos antes da hora marcada e nossa amiga já estava sentada à cabeceira da mesa de jantar e arrumada para a viagem. Olhou para mim sorrindo e perguntou entusiasmada:

– E então robozinho? Gostou do quarto de vocês? Está gostando da minha casa?


Antes mesmo de me sentar, comentei:

– É tudo muito bonito e agradável, contudo estou gostando mais de conhecer novos seres humanos. Achei sua gata adorável e pretendo estabelecer um contato maior com ela. – Após minha resposta, as duas sorriram animadas e conversamos sobre amenidades.


Exatamente ao meio-dia, Suzanna entrou na sala com a nossa refeição e depositou um prato a minha frente. Agradeci satisfeito por experimentar um sanduíche completamente diferente das receitas registradas na minha programação.


A governanta se retirou logo após nos servir. Pensei que teríamos a companhia dos Farmmer durante o almoço. Mais tarde Ella me explicou, apesar de Eve não concordar com aquela atitude, seus empregados eram treinados na melhor escola do continente e ensinados a não fazer as refeições com os patrões.


O almoço durou apenas vinte e três minutos e quarenta e sete segundos. No entanto, foi extremamente agradável. Sentiríamos falta da artista, não tivemos muito tempo juntos dessa vez. Esperávamos uma solução rápida para os seus problemas em Londres e um breve retorno.


Nossa amiga se despediu de nós, já na sala próxima à garagem. Ao me dar o usual beijo no rosto disse com voz baixa, para Ella não escutar:

– Vê se aproveita estes dias para inaugurar o seu novo dispositivo. Aqui tem litros de champanhe na cozinha! – Eu sorri com a sua sugestão, contudo nunca embebedaria minha namorada para seduzi-la.


George a chamou lá de fora e me virei para observá-lo, quando bradou:

– Dona Eve, é melhor irmos, ou pode perder seu avião para Londres.

A artista saiu em seguida, com Lila em seus calcanhares. Eu não tinha a mínima ideia de onde a gata havia saído! Eu a notaria se tivesse passado pela sala. Estava muito interessado em aprender mais sobre os hábitos do pequeno animal.


3 comentários:

  1. ah muito tempo que ja nao posto, porque na minha pagina dos blogues, o teu nao dava sinal de vida. Estava mesmo atrasada!
    Uauuuuu!!! A casa da Eve e mesmo gira e adorei a gatinha. Eu adoro animais, queria ter um gato mas como sou alergica tenho uma cadela.
    Continua assim, a historia esta muito gira e espero que nao acabe nunca.
    Deg,deg

    P.S:este deve ter sido um dos maiores comentairos que eu postei!XD

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  2. Aiaai cada vez ke eu leio mais eu me apaixono com esse robozinho!!!!
    Valeu a história esta demais!!

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  3. mmoedinhas,
    Eu deixei de atualizar duas quartas...
    Mas atualizei nas duas sextas e nos dois domingos seguintes. Que doido isso!
    Mas acontece!
    A casa da Eve é incrível mesmo, mas deu muuuuito trabalho! hehehe
    Eu também ou alégica, mas a pelos. Então não poso nem gato e cachorro, tive um jabuti, mas foi roubado no jardim da minha casa!
    Bem... uma hora a estória vai ter que acabar! O.o

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    Nize,
    Fico muito feliz que se apaixone cada vez mais pelo robozinho!
    Obrigada por comentar!

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    bjos mil *.*

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