quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Reiniciando IV

Sem realmente esperar algum comentário de nossa parte, Ella começou sua narrativa:

– Eu estava matriculada em Ciência da Robótica IV, precisava daquele crédito para completar todo o conteúdo do curso e só após sua conclusão poderia me especializar nesta área. A turma era bem reduzida, apenas quem obtinha as melhores notas podia fazer esta matéria.


– O Doutor Pietro veio transferido naquele semestre e como as outras duas garotas da turma, me entusiasmei quando o conheci. Moreno, alto, forte, era realmente muito bonito e ainda bem jovem. Porém, na primeira aula a boa impressão inicial se desvaneceu, principalmente por ser um péssimo professor.


– Para explicar os circuitos mais simples, ele enrolava por uma semana inteira de aula, mostrando vídeos, muitas vezes cansativos e pouco didáticos. Eu mesma poderia ensinar toda aquela teoria em duas horas. Aquilo não só me angustiava como me deixava irritada. Perdia um tempo valioso, para nada acrescentar aos meus conhecimentos.


Neste ponto minha criadora olhou para mim muito exaltada e falou:

– Ele não acreditava na possibilidade de gerar uma vida artificial inteligente e independente! Debatia por horas sobre o tipo de vida que poderia ou não ser gerado. Esquecia completamente de ensinar o básico!


– O que mais me incomodava era sua falta de ética. Como era monitora no laboratório de robótica, muitas vezes eu ficava depois da hora, para verificar os aparelhos para a aula do dia seguinte. Logo na nossa primeira semana de aula o flagrei agarrando uma aluna em sua sala. Fingi não ter visto nada, fechei a porta e saí.


– Depois eu me perguntei se ele não estaria fazendo com ela o mesmo que fez comigo. – A mulher amada começou a chorar naquele instante. Eu envolvi seu ombro com o meu braço para lhe confortar e Eve se aproximou solidária. Estava abismado com a sua dedução, sentia-se culpada por não ter interrompido os dois.


Ficamos assim por uns instantes até Ella criar coragem e nos afastar para continuar seu monólogo:

– Naquele dia... – A forma enfática da sua pronúncia esclareceu sobre qual dia estava falando – Quando cheguei, ele estava pressionando a Katie na parede da sala. Ela aproveitou a minha entrada e se afastou, sentando rapidamente em sua cadeira.


– Durante a aula, ele explicou sobre os músculos artificiais serem lentos, garantia a sua ineficácia e o despropósito em investir em pesquisas deste tipo. Não resisti e falei sobre o progressivo domínio da nanotecnologia permitir um avanço nesta área. Futuramente, todos os estudos poderiam ser aproveitados e aprimorados.


– Realmente, não compreendia como um engenheiro eletrônico especializado em robótica tinha uma visão tão curta e tacanha. Ele me fitou com calma, mas notei certa perversidade em seu olhar e voltou a falar como se a minha observação fosse completamente errônea.


– Após sua aula, fui ao laboratório ajudar um rapaz do primeiro período, com seu projeto. Era quase noite quando desci para pegar os livros no meu armário. Àquela hora não deveria haver ninguém dentro do prédio, nem mesmo o zelador.


– Eu me preparava para abrir o armário, quando senti uma mão pesada apalpando o meu traseiro. Fiquei chocada quando reconheci o dono da mão, o Pietro. Por um instante perguntei se eu estava tão mal afamada assim na universidade.


– Me admirei com as palavras de baixo calão que usou, enquanto tentava tocar meu rosto, me prensando de encontro aos armários. Pelas suas assertivas, deveria saber que eu havia dormido com alguns rapazes da minha turma. Eu não sabia o que fazer naquele momento, não esperava e nem desejava receber este tipo de atenção dele.


– Para minha sorte, uma das minhas colegas de turma ainda estava no prédio. Eu só não compreendia o seu motivo para estar ali. Mas foi o suficiente para distraí-lo, enquanto pegava meus livros e saía apressada.


– Meu grande erro foi ter ido ao banheiro antes de sair. Estava tão nervosa... – Ella fez uma pausa para continuar, não estava chorando, mas decepcionada consigo mesma quando afirmou – Se eu tivesse saído logo! Fui uma idiota, poderia ter evitado tudo...


A artista a interrompeu rapidamente:

– Não, miga! Não se culpe por isso, nunca saberemos o que poderia ter acontecido “se”. Devemos encarar os fatos e descobrir como fazer deles um aprendizado, por pior que seja.


Após o comentário da amiga, minha criadora fez uma pausa, analisando suas palavras e por fim continuou:

– Eu não aprendi nada com isso. – Foi sua resposta; e novamente parou procurando obter forças para voltar à história – Seja como for, eu saí de lá com o crepúsculo. Minha única saída era a porta do segundo andar que dava para os fundos, estava sempre aberta, pois trancava ao bater. Estava descendo as escadas, quando vi uma faísca no térreo.


– Próximo à lata de lixo, estava o meu professor acendendo um cigarro. Os fundos do prédio ficavam à margem de um grande descampado. O lugar era muito isolado, mas eu não imaginava o que estava por vir. Só me senti desconfortável com a sua presença.


– Quando cheguei ao térreo, ele já havia descartado o cigarro e veio ao meu encontro. Tentei ser firme pedindo licença para passar. Ele me surpreendeu dizendo querer um beijo de pedágio. Sua forma de falar dava a entender que não se contentaria apenas com um beijo e sugeria ser minha obrigação permitir uma maior aproximação.


– Eu o cortei na mesma hora, dizendo não achar certo ter um relacionamento deste tipo com qualquer professor. Pensei que com isso o afastaria. Mas eu estava completamente enganada. Nunca imaginei o que estava para acontecer nos minutos seguintes.


5 comentários:

  1. Tadinha da Ella... Se eu encontro esse tal professor por ai, boto fogo no cabelo dele. >:(

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  2. Buah, mitaaa eu ainda vou te bater!>.< AHHHH! QUE RAIVAAAAAAAAAAAA!Esse professor nem sei o q eu faria!!!!!!Q raiva cara "abusante"!!!HUMP!
    A Ella uma garota dedicada, bonita, de bem com a vida! Pq ela? Pq alguém pra falar a verdade!
    Esse mundo de hoje...tisc...tisc...tisc...ninguém sabe onde vai parar!!!
    Além do cara ser o pior professor ele ainda quer se dar bem na parada?! Ah faça-me o favor!!!!GGGGGGrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr! Olha como ele agarro a primeira menina!!!!
    Mas quando a Ella terminar de desabafar, ela vai se sentir melhor! E o Adam e a Eve vão ainda ama-la do jeitinho q ela é!!!
    Hoje foi mais a história, amo quando a Ella conta as histórias dela aparece ela diferente, mas o ruim q são histórias tristes! :( D:

    Amei a atu como sempre!!!!!

    *-*Clay1*-*

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  3. Carol,
    Menina! Que violência! O.o

    Clay1,
    É, o pior que não é só com Ella que acontece este tipo de coisa. :/
    Mas desde que o mundo é mundo, existe este tipo de violência com mulheres e crianças.
    O forte subjugando os mais fracos.
    Com certeza, após contar tudo, Ella vai continuar sendo amada e muito mais compreendida pelos amigos.
    Ella fica diferente, né?
    Nesta época Ella se cuidava mais, mantinha uma aparência mais arrumada.
    Agora...
    ao estórias sempre tristes, porque elas marcaram a vida dela.
    Amo quando você ama! :}

    bjosmil meninas!
    Adoro vocês!

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  4. Desculpa pela violência Mita... Mas fiquei revoltada com o grandalhão.
    Adoro vc tbm :*

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  5. Carol!
    Tava só brincando! :}
    E entendo, este tipo de coisa deixa a gente revoltado e furioso.

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