domingo, 25 de outubro de 2009

Reiniciando III

Dez segundos após sua surpresa inicial, Ella estava prestes a sair da sala. A artista alheia a sua entrada, soluçava baixinho em meu peito, não gostaria de perturbá-la, entretanto não poderia permitir a saída intempestiva da minha criadora. Pronunciei seu nome em um apelo.


No mesmo instante, Eve se desvencilhou do meu abraço, percebendo a presença e o desapontamento da amiga. Clamou com a voz embargada pelo choro convulsivo:

– Ah, não! Não vai fugir desta vez, não! Precisamos falar com você! – Procurou dar firmeza a entonação, contudo foi impossível, diante das circunstâncias.


Notando o tom totalmente anormal da artista, Ella se voltou para nós, preocupada:

– O que houve com você? Por que andou chorando? Você nunca chora! – E desviando seu olhar para mim completou – O que vocês andaram conversando?


Não havia como escapar da sua pergunta. Seu semblante estava marcado pela perplexidade diante da sua conclusão dos fatos. A mulher amada não tinha dúvida de qual era o único motivo a fazer sua amiga chorar: Eu havia descoberto seu grande segredo.


Desta vez, paralisada de medo pelas lembranças e o embaraço. Cabisbaixa, sua insegurança pairava por toda a sala como uma neblina forte e densa, nos levando a pensar se era justo confrontá-la naquele momento.


No entanto, sempre haveria um motivo para não fazermos absolutamente nada. Era muito importante conversar sobre o assunto. No meu pouco tempo de vida, notei minha criadora sentir-se melhor e renovar os ânimos, após seus desabafos. Talvez discorrer sobre o assunto conosco pudesse ajudá-la.


Eve respondeu sua pergunta ao se aproximar e a conduziu até o sofá:

– Você sabe o que conversamos! Sua reação ao Adam hoje deixou tudo muito óbvio. Ele pode não querer acreditar, mas descobriu o que aconteceu com você.


Ella olhou para mim com surpresa, medo e apreensão. Seu rosto ganhou uma coloração suavemente rosada. Em um simples olhar toda sua dificuldade foi exposta.


A mulher amada, praticamente desabou sobre o sofá em estado catatônico. Sentamo-nos, um a cada lado seu, procurando trazer-lhe conforto. Seu estado de estupor me transtornava, porém não pretendia desistir da verdade.


A artista mais uma vez desafiou o silêncio a impregnar o ambiente, declarando:

– Miga, sei que você nunca teve coragem de falar sobre o assunto, mas só vejo uma forma de aliviar sua dor. Deve contar tudo para nós. Eu nunca me senti capaz de fazer você falar. Pois tudo o que você sofreu dói muito em mim também. Mas com o Adam aqui, me sinto mais forte para escutar.


Estava realmente surpreso com a total confiança em mim depositada. Perguntava-me se seria capaz de ouvir todo o sofrimento vivenciado por minha criadora. Só tinha a meu favor a inexistência de um canal lacrimal em minha constituição. Não poderia chorar, nem desejando.


Seu olhar para mim praticamente implorava por minha desistência. Detestava a sensação de negar algo a mulher amada. Entretanto, a esta altura eu precisava ouvir de seus lábios a confirmação do ocorrido e tinha certeza, seria o melhor para todos nós.


Decidido, insisti:

– Ella, em nosso curto período de convivência, seus relatos eram repletos de angústia. Entretanto, mitigavam seu sofrimento e traziam ânimo para suas feições. Por este motivo, creio na necessidade de nos contar o ocorrido, para proporcionar alívio e consolo. Ver seus olhos brilharem sem temor ou insegurança.


Minha criadora finalmente falou, o som mal saía de suas cordas vocais:

– Me sinto envergonhada por tudo, eu...


Nossa amiga se rebelou contra sua hesitação e a cortou dizendo:

– Sabe que não precisa ter vergonha de nós, te amamos e vamos estar sempre ao seu lado. E não acredito que haja motivo algum para se envergonhar. Você não poderia evitar o que aconteceu.


A mulher amada respondeu em um tom débil:

– Claro que tenho! Se eu não ficasse por aí com um monte de rapazes, me oferecendo como uma qualquer... Se eu não fizesse questão de frisar a cada ensinamento haver um modo mais simples e eficaz... Nada disso teria acontecido.


Eve contra-argumentou:

– Ella, aquele homem era um maníaco. Não tinha o direito de fazer nada com você, independente das suas ações. Precisa aceitar isso! Eu e Adam vamos ouvir todos os detalhes, só assim poderemos te ajudar. Você é a vítima, me incomoda e machuca saber que se acha culpada.


Resolvi interferir e comentei:

– Estamos do seu lado em qualquer hipótese. Mas você precisa nos contar, aceitar a verdade e querer se absolver deste sofrimento. Desejamos ver você feliz, libertar-se da angústia que mantém cativa a mulher maravilhosa diante de mim.


Minha criadora olhava para mim abismada, contudo replicou rapidamente:

– Eu não sou maravilhosa, nunca fui! Você tem uma visão minha completamente irreal!


Não podia mais admitir deixar sua baixa estima a cegar para a realidade:

– Você é maravilhosa sim! Linda, adorável, doce, carinhosa, inteligente... Tem uma vasta lista de predicados, em trinta minutos eu não a completaria. Venceu por seus próprios méritos, conquistou sua independência financeira apenas com o bom uso de suas capacidades. E não posso deixar de comentar, me construiu.


Nossa amiga complementou:

– Ella, Adam está totalmente certo. Sem você, eu nunca seria a artista famosa que sou hoje. Se você não contratasse a Heidi Grald para lançar a minha carreira, estaria vendendo meus quadros em uma feira de artesanatos. Miga, não há pessoa tão maravilhosa quanto você em todo este mundo.


Minha criadora se aquietou, embora ainda resistisse, concordou:

– Vocês realmente me acham maravilhosa? – Eve e eu assentimos com um meneio de cabeça – Depois que eu contar tudo, talvez não me achem mais. Espero que possam me perdoar, algumas coisas provavelmente eu não conseguirei nem ao menos pronunciar.


2 comentários:

  1. Ai,ai,ai!No começo eu acheiq eles iam brigar, mas esqueci q a Ella é tão calminha!
    O tal homem q a Eve disse era o professor?
    Nosssa a hist[oria é tão ruim q a Ella acha não vão achar mais maravilhosa? O.o
    No último quadrinho todos estão de All Star menos a Ella kkkkk.
    Tadinha da Ella, ela fico super vermelha na hora da conversa...hihihi

    *-*Clay1*-*

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  2. Clay1
    É Ella não é dada a brigar.
    Não brigou nem quando viu o seu namorado com outra!
    É, tem muita coisa ruim para ser dita...
    Mas isso não vai impedir seus amigos de continuarem a achá-la maravilhosa. :P
    Ah, você notou os tênis! :)
    É uma conversa muito difícil e a deixa muito envergonhada!

    Quarta tudo se esclarece!
    bjosmil! *.*

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