quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Reestruturando o Sistema I

Após Ella dormir, continuei a dar os retoques finais no meu projeto. Relembrava os acontecimentos daquele final de tarde e princípio de noite. Algumas de suas palavras antes e após o beijo faziam parte de um quebra-cabeça, estava decidido a montá-lo.


Terminei tudo, faltando exatos cinco minutos para as seis e meia da manhã. Subi até a biblioteca disposto a conversar com Eve pelo msn. A esta altura, sabia ser o melhor horário para encontrá-la. Quando não saía de casa, a artista preferia a madrugada para criar suas obras. Ao encerrar seu trabalho, recebia os emails e enviava suas mensagens antes de se recolher, geralmente no início da manhã.


Estava propenso a contar sobre o beijo. Mesmo porque, minha amiga estava determinada a tirar todas as minhas dúvidas ao chegar e não seria mais necessário. E sob o comando das minhas emoções desejava compartilhar minha experiência com alguém. Eu só tinha a Eve.


Sem notar, meu relato embora curto e resumido sobre as sensações, foi o suficiente para a artista notar e perguntar: “Você está apaixonado pela Ella?”
Em uma fração de segundos, lembrei do rosto chocado da mulher amada ao descobrir sobre meus sentimentos.


Eve, embora pouco entendesse do meu funcionamento, reconheceu a paixão em mim, apenas com minhas poucas palavras. Isso me deixou desconcertado. Fiquei olhando para tela por um segundo completo antes de responder todas as suas questões subsequentes.


Contei cada detalhe do acontecido durante o crepúsculo, não omiti nem o meu tropeço ao falar “amo você” e muito menos a total indiferença da minha criadora após a confissão. A artista disse compreender sua amiga, era muita coisa para absorver de uma vez só. Ella não acreditava ser merecedora de uma paixão.


Comentei sobre as pontas soltas em sua conversa e minha intenção em entender. Minha amiga explicou parte das minhas dúvidas, mas sem entrar em muitos detalhes. Não falou nada sobre a mulher amada se referir ao beijo como “libertador”.


No entanto, disse quem foram as duas pessoas a magoarem Ella, não retribuindo seu amor, o Gilbert e sua mãe. Sugeriu que eu perguntasse a minha criadora sobre os pais na primeira oportunidade e eu pretendia seguir seu conselho.


Naquela manhã, a mulher amada se atrasou em seu despertar matinal e decidi adiantar as tarefas na estufa. Cuidando primeiro das plantas, falando com cada uma delas, por fim colhendo alguns frutos e legumes para o almoço.


Ao terminar o trabalho, resolvi permanecer por mais tempo na estufa. Precisava deter de alguma forma os sentimentos em meu sistema. Não poderia novamente, em um momento de extremo prazer e bem-aventurança, os deixar tomar conta da minha programação.


E não havia lugar melhor para mim em toda Ilha, era o meu local favorito. Resolvi apreciar todo o poder da natureza ao meu redor. Mobilizando minhas sensações ao extremo, acreditava ser capaz de detectar qual a parte da minha rede neural se desvirtuou e originou minhas emoções atuais.


Deitei sobre a relva macia, com cuidado para não machucar as flores. Fiquei absorvendo a energia da terra, os odores da natureza, o sabor de uma folha de alecrim em minha boca, atento ao som das ondas do mar e as cores vibrantes a minha volta.


Ao encontrar, em meu sistema, onde estavam guardados meus primeiros sentimentos, me levantei decidido a isolar esta parte para não interferir em minha rede neural. Contudo, havia uma certeza dentro de mim: Estas emoções faziam da minha existência algo incrivelmente mágico e inspirador. Nunca poderia deletá-las de minha memória.


Com a vinda da Eve marcada para o dia seguinte, minha criadora estava muito ansiosa e animada. Como acordou tarde, sentamo-nos na varanda para conversar, depois do jantar. Aproveitei o ensejo para perguntar sobre sua família e infância.


Ella olhou para mim com um sorriso de interesse e constatou:

– Ontem eu falei das pessoas que eu amo e incluí o meu pai. Você deve estar curioso para saber dele, eu falo muito pouco sobre a minha família.


Não a interrompi, deixei começar sua narrativa, apreciando as nuances em seu semblante:

– Meu pai era um homem simples, trabalhava em uma fábrica de brinquedos e mal sabia escrever o próprio nome. Mas me chamava por apelidos afetuosos como “docinho” ou “minha princesinha” e era muito carinhoso. – Havia um brilho iluminando seu olhar ao falar do pai.


– Ele me levava ao parque em frente de casa em suas folgas e brincava comigo sempre com um sorriso no rosto. Não tinha outra distração senão me fazer feliz, mesmo com pouco dinheiro no bolso.


– Quando entrei na escola particular, a empresa onde meu pai trabalhava faliu. Ele mantinha contato com um antigo cliente da fábrica que o instigou a investir em uma bancada para continuar a fazer brinquedos para ele, logo que recebeu o dinheiro da indenização. Papai se mantinha confiante por poder trabalhar em casa e ter mais tempo com a família.


Minha criadora tomou fôlego por uns instantes e seu olhar ficou opaco. Seus olhos tristes insistiram em assombrar minha tela interna, quando falou:

– Então, tudo mudou!


Sua pausa foi longa, a tristeza em seu rosto me perturbava e decidi perguntar:

– O que mudou?


4 comentários:

  1. Olha eu de novooooooo:

    -Meu pai começou a beber e a mamãe começou a brigar com ele, e etc, estou com o palpite certo? *-*
    kkkkkkk
    AMEI A ATU!

    PS: É meio anda a ve mas agora entendi como vc atu, vc atu dia sim, dia não, dia sim, dia não...


    *-*Clay1*-*

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  2. Clay1,
    É por aí mesmo... Esta parte Ella já mencionou.
    Mas ainda não explicou como foi. Falou por alto.
    Amei que você amou!

    Ah! Você não sabia? É sempre quartas, sextas e domingos à noite. Quando não dá pra atualizar no dia certo, eu aviso antes!

    bjosmil!!!! *.*

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  3. Ai, Mita!!! O que mudou??? rsrsrs.
    Novamente, consegui colcoar minha leitura em dia e estou curiosa para saber o que vem em seguida.
    Bjkas

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  4. Oi Chris!
    Ah... Parte o que Clay1 falou ali em cima... Mas tem outros detalhes.
    Mais tarde vocês vão saber!

    Que bom!!!!! Sinto sua falta por aqui! =$

    bjosmil!!! *.*

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