sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Reiniciando II

Passado o momento de descontração proporcionado pela artista, minha criadora sugeriu:

– Eve tem razão. Você precisa aprender a se vestir. Enquanto trabalhávamos em sua nova aparência, discutimos sobre quem poderia lhe ensinar com mais facilidade e a tarefa recaiu sobre ela.


Nossa amiga deu seu parecer:

– Além de evitarmos o constrangimento de “certo alguém”... – Pronunciou as duas últimas palavras olhando para Ella e completou – Eu tenho mais experiência no assunto. Cuidei de dois irmãos mais novos e os ensinei a se vestir, dar laço no tênis, entre outras coisas.


A total descontração da mulher amada e a completa dissipação do clima tenso de um minuto e meio atrás resultou na seguinte afirmação:

– E depois, Eve sabe despir como ninguém! – Sua frase foi pronunciada com um sorriso maroto no rosto, desviando o olhar para a amiga.


A artista fingiu não ter escutado e disse:

– Vamos robozinho, tem muito a aprender! Com certeza vou saber te ensinar a vestir e te despir com facilidade. – Ella arregalou os olhos percebendo a entonação sedutora, insinuando ensinar-me muito mais que o combinado.


Em seguida, nossa amiga caminhou decidida em direção à porta do escritório e a acompanhei. Além do novo aprendizado, precisava comentar com ela sobre as conclusões as quais cheguei. Não poderia conversar com a minha criadora sobre o assunto sem ter absoluta certeza da minha dedução estar correta.


No quarto da Ella, Eve me ensinou desde como segurar uma calça, até fechar o último botão. Não era complicado, entretanto, eu nunca me vesti anteriormente, meu antecessor muito menos. E por isso, deveria criar uma nova programação para o meu sistema.


Em pouco tempo, eu estava completamente vestido e familiarizado com as roupas trazidas por minha amiga. O estilo das peças combinava com o meu visual, segundo a artista. Achou importante me ensinar a combinar coturnos, botas, sapatos plataformas com as calças e camisas. Para minha sorte, havia alguns pares de tênis, e eu poderia usá-los enquanto não aprendesse a andar com os outros sapatos.


Antes de procurarmos pela minha criadora, decidi comentar:

– Diante da reação da Ella, conclui o motivo para ficar em tal estado com a manifestação involuntária do meu novo dispositivo. Não gostei nem um pouco da minha dedução, todavia a lógica não apresenta nenhuma outra possibilidade.


A artista não se chocou com a minha observação:

– Após sua reação hoje ficou tudo mais claro, não é mesmo? – Meneei a cabeça concordando.


Prosseguiu com a sua análise dos fatos:

– Seu afastamento da convivência com as pessoas, sua resistência em voltar para civilização, sua insegurança, a minha insistência para você mudar seu visual e a dificuldade dela em aceitar isso de início.


– E também saber da história de uma jovem que se entregava a realização de seus desejos sem receios, e hoje, como mulher madura, entra em pânico com uma manifestação... – Uma lágrima desceu do rosto da artista, desviando seu olhar, desabafou – Eu tento ser forte por Ella, juro!


Abracei-a procurando oferecer-lhe algum consolo. Em momento algum da minha curta vida, poderia acreditar ver Eve, geralmente tão forte, desmoronando de tristeza. Contudo, só haveria uma razão para o seu pranto: a desagradável e desolada realidade da amiga.


Quando suas lágrimas se esgotaram, colocou suas mãos em meu peito e comentou:

– Você é um ótimo amigo, Adam. Há dois meses atrás, eu nunca acreditaria que um androide iria me confortar e trazer alento para o coração da minha melhor amiga. Você me deu muitas esperanças.


Fiquei embaraçado diante de suas palavras, não tinha como expressar minha gratidão por sua postura aberta em relação a um ser completamente fora dos padrões, como eu. Sabia o quanto era difícil para o ser humano aceitar inteligência em qualquer outra espécie ou forma de vida.


A artista voltou a se recostar em meu peito, buscando alento para suas apreensões. A esta altura, ser reconhecido como amigo, apesar das diferenças, nos aproximou ainda mais. Mantive o abraço, sem saber qual seria o próximo passo em uma boa amizade. Todavia, em minha experiência com a mulher amada, descobri bastar a presença silenciosa e o conforto dos meus braços.


Enquanto mantinha Eve de encontro ao meu corpo, tentava compreender seus motivos para mudar em relação a mim. Demonstrar amor e carinho era a única resposta. Sentimental e impulsiva como todo grande artista, as emoções me tornavam um ser inteligente e de vida própria, do seu ponto de vista. Acredito ter sido o meu amor por Ella a modificar a sua maneira de me ver.


Nossa amiga ainda estava com o rosto enterrado em meu peito, quando a mulher amada entrou no cômodo. Em seu semblante havia certa surpresa e decepção, estava paralisada. Não tenho dúvidas quanto as suas conclusões apressadas e errôneas sobre a cena a sua frente.


4 comentários:

  1. Ai ai ai... Tenho uma "leve" impressão que a Ella não vai ficar muito contente com a amiga sabe...
    Mita, vc sempre acaba a atu bem na parte mais emocionante!!!!!! (mais aí q é legal né?)
    Voltando ao assunto de sempre: e a bebê? kkkkkkkk, brincadeira!
    Mas então...tadinha da Eve e do Adam acho q eles vão ouvir uma discusãosinha com a Ella! (se ela não deixar eles explicarem)!
    A Ella deve ter pensado q a Eve estava seduzindo o Adam né? Ainda mais com seu trauma e bem... ela estava com o rosto enterrado no peito dele literalmente! E o Adam não podia fazer nada, enquanto a amiga estava dissemos assim: tendo uma pequena crise emocional!

    AMEI A ATU COMO SEMPRE!!!

    *-*Clay1*-*

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  2. Clay1,
    Será? rsrsrsrsrsrsrsrs
    É como sempre digo: tenho que parar em algum momento, e se parao na parte emocionante vocês voltam para ler mais!
    Será? Acha que tem para onde fugir vivendo dentro de uma Ilha deserta? rsrsrsrsrsrsrsrs
    Pois é, a crise emocional da Eve, nada comum, pode dar mesmo uma má impressão!

    EU AMO QUANDO VOCÊ AMA!!!!!!

    bjosmil! *.*

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  3. Sei não! kkkkkkk!
    Mas buiah mita, vc faz eu ficar anciosa pra chegar domingo mas domingo é perto de segunda ou seja...Acabou o final de semana (pelo menos eu vejo o Adam e a Ella)!
    Sabe...acho q tem sim alguns lugares...kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!!!
    Ai..ai.ai...E ainda mais q ela brincou com Ella de despir o Adam né? Imagina... a Ella ve aquilo e acha q não era brincadeira...e fica brava com os dois tadinhos!

    PS: Posso te chamar de Mita?

    *-*Clay1*-*

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  4. Clay1,
    Hoje de noite vai tirar todas as dúvidas!
    É verdade. Pelo menos alguma coisa a se esperar no domingo... :} =$
    Pois é, Eve fez a brincadeira... O.o

    Claro que pode me chamar de Mita!
    Beijos mil! *.*

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