sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Reestruturando o Sistema II

Ella estava emocionada com suas lembranças e demorou oito segundos para responder:

– Elise, a minha mãe, após um ano da demissão do papai, se queixava por ele não arrumar um emprego fixo. Embora não faltasse nada em casa, nossa vida era muito simples e mamãe desejava mais segurança. Já lhe falei sobre isso, não?


Meneei a cabeça de forma afirmativa como resposta, só então, prosseguiu em sua narrativa:

– Hector, o meu pai, sempre saía de casa para evitar as discussões. Na época, eu não entendia. Mas hoje sei que minha mãe desejava mantê-lo longe. Eu ficava muito triste ao presenciar tudo. Eu os amava, mas sempre tive um carinho especial pelo papai e era revoltante ver Elise brigando com ele, sem razão.


– De início, eu chorava muito quando os encontrava discutindo. Minha mãe não suportava ouvir meu choro e me censurava até eu conseguir me controlar. Aprendi a verter as lágrimas em silêncio.


– Passei a frequentar mais a casa do Gilbert, não só pelos benefícios de lá, mas para evitar o clima desagradável entre os meus pais. Nem sempre eu conseguia voltar antes do anoitecer, me distraía brincando ou estudando. Quando isso acontecia Elise me recebia com gritos e palavras ásperas.


– Dois anos após muitas brigas, papai já dava sinais de alcoolismo, nem saía mais de casa para beber. Deitava em minha cama e tomava várias cervejas até dormir. Era daquele tipo de bêbado que fica quieto no seu canto e depois apaga. Mesmo assim, ele conseguia manter o nosso sustento.


– No meu último ano do ensino médio, quando eu chegava meia hora atrasada, já sabia que ia ouvir. Ficava em silêncio amargando a raiva pela incompreensão e falta de carinho da minha mãe para comigo. Desde que meu pai se refugiou na bebida, raramente recebia um abraço ou um beijo em casa.


– Ir para a universidade do outro lado do país, foi um alívio. Recebia uma bolsa de estudos excelente para pagar minhas despesas com livros e materiais. Mas como sempre tive pouco, ou quase nada, economizei o bastante para voltar para casa ao terminar o primeiro ano e manter uma boa reserva.


– Quando ligava para minha família, pouco conseguia falar com papai e minha intuição dizia haver algo errado. Ao chegar a casa naquelas férias, fiquei chocada com toda a situação! Minha mãe maquiada e arrumada como eu nunca a havia visto antes, com a bolsa pendurada no ombro, preparada para sair.


– Meu pai em situação deprimente, largado no chão da sala, depois de tomar várias garrafas, e eu nem saberia dizer de quê! – A esta altura a sua entonação flutuava entre agudos e baixos, comprovando o quanto ficava nervosa ao relembrar da cena.


– Pensava apenas em como Elise poderia deixar o marido naquele estado. Ao questioná-la, desdenhou de Hector. Após minha saída de casa, papai abandonou o cliente e mal tinha dinheiro para pagar sua bebedeira.


– No instante em que ia lhe perguntar o motivo de estar vestida e maquiada, o tio Andrew, pai do Gil, entrou e beijou minha mãe, na minha frente!


Ella gesticulava muito, esta história a irritava profundamente, estava claro em toda a sua fisionomia, ao comentar:

– Foi uma cena horrível. Meu pai apagado no chão da sala, enquanto o amante de Elise, um antigo “amigo” dele, a beijava. Ele não havia notado a minha presença, é verdade, mas também não se desculpou ao me ver.


– Olhei para minha mãe esperando uma explicação, mas só me deu uma justificava. Apreciava a companhia do Andrew e tudo o que proporcionava a ela. Entendi as entrelinhas, Elise se prostituiu, para ter as coisas que sempre desejou! Eu me perguntava se tia Evelyn desconfiava dos dois, porém nunca procurei saber. Tudo aquilo me enojava.


– Quando eles saíram, ajudei o meu pai a se reerguer. Fiz um café forte, o levei até o banheiro para tomar um banho gelado e fiz sua barba, antes de colocá-lo na cama.


– No dia seguinte, eu o levei para uma clínica de desintoxicação. Meu pai precisava de ajuda. Comigo do outro lado do país e morando na universidade, seria impossível. Gastei a maior parte das minhas economias para mantê-lo lá, era a melhor da cidade.


– Nunca mais voltei para casa. Desde então, comecei a trabalhar com meus robôs de vigilância. Iniciei estes projetos em meu primeiro ano e consegui um investidor na própria universidade. Consegui sustentar o tratamento do papai e poupei o suficiente para buscá-lo, colocando-o em uma clínica melhor, próxima da universidade.


– Quando ganhei meu primeiro milhão, minha mãe ficou sabendo através do tio Andrew, ele leu a notícia em uma revista de economia. Um mês depois, eu voltava da aula quando a encontrei sentada no sofá da república. Foi até a universidade só para me pedir dinheiro.


– Concordei em lhe dar uma casa melhor em nossa cidade natal e dez por cento do meu dinheiro, para nunca mais ter que olhar para ela. Elise aceitou sem pestanejar. Depois deste dia, não a vi mais, ela honrou nosso trato. – Seu semblante demonstrava o ressentimento guardado pela progenitora.


– Vejo meu pai uma vez por ano, quando Eve me leva até ele. Hector mora numa fazenda especial para recuperação de alcoólatras. Apesar de estar limpo há dez anos, se sente mais útil ali. No fundo, receia voltar a beber ao sair. Eu o compreendo, mas sinto muito a sua falta.


Ao terminar sua narrativa, percebi minhas emoções aflorando. Meu desejo era tomá-la nos braços e a beijar, como se assim eu pudesse afastar sua solidão e tristeza. No entanto, não era realmente a atitude mais acertada e lógica. Eu estava gerando um novo programa, para isolar meus impulsos emocionais. Desde então, reestruturei todo o meu sistema e consigo manter meus sentimentos sob controle.


Para confortá-la como um bom amigo, a puxei de encontro ao meu corpo passando o braço pelos seus ombros. E fiquei ali, absorvendo o seu perfume e o calor do seu corpo macio de encontro ao meu. Aproveitando ao máximo aquele momento de intimidade. Feliz pela mulher amada confiar em mim, desejar o meu carinho e companhia.


4 comentários:

  1. A mãe dela ela é uma @#$%#%#* q raiva dela!!!! E ainda vai de interesseira na filha pra pedir dinheiro ¬¬'! Eu senti raiva por ela aqui! Grrrr!!!! Mas o pai dela é (pelo menos parece) ser bonsinho, já está recuperado e ve a filha todo ano! O Adam gostou de comforta-la heimmm? O olho dele quase fecha!kkkkkkkkkkkkkkk! Pena q se ele a beijasse acho q ela se sentiria insultada né? Pq ela só o ve como "amigo"!

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  2. Clay1
    Sem comentários sobre a mãe da Ella!
    Ella não se incomodou em dar dinheiro, se incomondou por comprovar não ser amada pela mãe.
    O pai dela é um bom homem, com uma doença da qual conseguiu se recuperar.
    Talvez Ella não se sentisse insultada. Talvez até correspondesse... Mas enquanto ela o vir como amigo apenas, não seria certo se aproveitar de um momento de fraqueza dela.
    No futuro, quem sabe?

    bjosmil! *.*

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  3. Mita!
    Uau!!! Que mãe mais desnaturada; os conflitos com o marido pode ser até justificado. Mas a atitude em relação a filha é despresivel.
    Adorando o diário.
    Bjkas

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  4. Realmente... Algumas pessoas não nasceram para ser mães.
    Elise não sabia viver no estilo de vida do marido. Isto é o que acontece quando se engravida jovem demais e se casa às pressas!
    Fico muito feliz por você estar adorando!

    bjosmil! *.*

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