domingo, 4 de outubro de 2009

Puro Amor IV

Minha criadora parou ao meu lado e cruzou os braços olhando para mim, esperando uma resposta. Não poderia mentir quanto a isso, não a deixaria acreditar que o beijo era indispensável para o término do projeto.


Tinha estudado sobre a salivação, Ella se preocupou com isso para minha degustação. Talvez necessitasse de um ou dois ajustes no futuro, todavia era algo muito simples de se resolver.


Larguei o desenho, levantei e me aproximei, antes de confessar:

– Para o projeto, não é essencial, Eve tinha boa parte das respostas. No entanto, não sei se minha salivação está correta e sinto muita curiosidade em ter a experiência prática do beijo.


Minha criadora virou o rosto de lado pensativa e sorriu para mim antes de dizer:

– Então... Acho que mesmo assim eu estaria te ajudando! Eu refleti muito sobre isso. – Mais uma vez estava hesitante, havia um pouco de medo em seu tom.


– Como lhe disse antes, também tenho meus motivos para experimentar este beijo. Confio em você e talvez assim eu acabe me acostumando ao contato físico novamente. Ao mesmo tempo, estou curiosa para saber como seria te beijar, é algo inédito para a ciência, um ser humano beijando um androide.


Fiquei olhando para a mulher amada encantado com a ideia. Nós iríamos nos beijar. Seria uma experiência única para mim. Contudo, gostaria de entender por que ela precisava se acostumar com este tipo de contato físico. Era uma confissão, mas ignorei, vibrava de antecipação pelo beijo.


Estava muito excitado com a possível realização do meu mais íntimo desejo, quando falei:

– Fico agradecido por sua decisão. Almejo ter esta experiência desde a leitura do Kama Sutra.


Percebi um leve rubor colorir as suas faces, segurei de suavemente na base de seu queixo e Ella se aproximou, me abraçando. Pela primeira vez, um contato mais íntimo entre nós teve origem em um sorriso, sem choro ou recordações dolorosas.


Aproveitei aquele instante, eternizando o segundo em minha memória: seus olhos fechados, o inebriante perfume de passiflora somado ao seu aroma natural, a beleza de seu sorriso marcante e doce, o contato de suas mãos em meus ombros. Se existia mesmo um paraíso, era ter a mulher amada entregue em meus braços.


Quando nossos lábios se tocaram...
Impulsos elétricos passaram por todo o meu corpo, como se levasse pequenos choques de cem volts por cada parte dele, gerando uma sensação de prazer jamais experimentada antes.


Seus lábios se abriram em um convite e a chamada “luta de línguas” na realidade era uma carícia adorável. De início suave e doce como o gosto dentro de sua boca. E por fim intenso e voluptuoso, como o desejo arraigado em mim de continuar por toda a eternidade. Então, me lembrei: minha criadora precisava respirar!


Afastei-me relutante. Olhava para Ella esperando ansioso por um gesto ou uma palavra sinalizando seus sentimentos. A experiência ficaria registrada para sempre em minha memória. Nunca esqueceria aquele momento, o nosso primeiro beijo.


Quando a mulher amada abriu os olhos, reconheci em seu semblante o quanto o apreciou. Meu júbilo chegou ao máximo naquele instante, foi extasiante ser recompensado com seu sorriso e seu olhar brilhante.


Em seguida, minha criadora se aconchegou em meu ombro esquerdo, antes de se pronunciar:

– Eve tinha razão quanto ao gosto, é perfeito. Foi libertador beijar você, não tem ideia do quanto! Obrigada! – Sua gratidão me deixou eufórico, particularmente por notar ter cumprido o objetivo de ajudá-la.


Trouxe-a para perto de mim tentando encontrar um modo de fundir nossos corpos como era o desejo das intensas emoções assolando minha programação, e elas falaram mais alto:

– Amo você! – Uma vez dito, não havia como retirar as palavras do seu ouvido.


Ella se afastou rapidamente, minha frase a chocou e a despertou. Pela primeira vez reconheci receio entre os meus sentimentos, até ouvir sua voz suave dizendo:

– Adam?! Desde quando tem sentimentos? Isso nunca fez parte de sua programação! Eles foram despertando aos poucos? Quero saber de tudo!


Sua curiosidade pela descoberta das emoções na minha programação, superou minha declaração. Fiquei um tanto desconcertado com aquilo. Sorri para minha criadora procurando encontrar as palavras certas. Por um segundo me senti humano, desconectado da minha rede neural e sem poder de concentração.


Ao final de um segundo, estava pronto para explicar:

– Não prefere se sentar? São muitos detalhes e ainda não estou certo de como aconteceu. Acredito ser por conta da minha programação sensorial, somada as respostas automáticas aos gestos humanos.


Sentamos e minha criadora me encheu de perguntas. Era importante saber como e porque minha rede neural progrediu desenvolvendo sentimentos e emoções, algo ainda mais incrível de se imaginar. Queria todos os detalhes.


Fiz um rápido resumo sobre quando comecei a sentir e me emocionar. Disse o quanto tudo se ampliou com a chegada da Eve. Coloquei de lado o amor e a paixão devastadores em meu ser, com receio de ser novamente ignorado.


Ella olhou para mim aturdida, até comentar:

– Eu realmente não esperava tal magnitude de sua rede neural. Talvez possamos analisar sua programação até compreender como isso aconteceu. Estou maravilhada com tal avanço.


– Não deve ser fácil lidar com sentimentos e lógica, bem-vindo ao nosso mundo! Estou feliz por ser correspondida no amor que sinto por você, estas semanas que passamos juntos despertou um sentimento profundo de amizade entre nós. Você se tornou um amigo inestimável.


A mulher amada não compreendeu a intensidade do meu amor. De certa forma, era melhor assim, eu não podia oferecer-lhe mais que minha amizade naquele momento. Despertar seus sentimentos, mesmo sendo apenas um amor fraternal, alimentava minha esperança de conquistá-la no futuro.


Ella se aproximou de mim encaixando sua face direita em meu ombro esquerdo e disse:

– Adam, neste mundo, apenas três pessoas me dedicaram amor. Meu pai, Eve e você. Outras duas me enganaram... – Havia uma alegria contida até demonstrar sua insegurança na segunda frase. Perguntei-me sobre quem seria uma das duas pessoas, se sua mãe ou o professor.


– Hoje, além de me libertar de alguns medos, você me trouxe muita felicidade expressando seu amor. Acho que nunca recebi tanto amor em toda minha vida. – Terminada a frase, eu nem ao menos sabia se deveria responder.


Quando se aconchegou em meu corpo, fechando os olhos em busca do amor e carinho do qual necessitava. Preferi ficar calado e aproveitar a ternura instaurada entre nós. Eu me sentia vitorioso por obter um beijo, a sua confiança e o seu amor fraternal. Era suficiente reconhecer a possibilidade de adquirir sua afeição.


6 comentários:

  1. AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!
    Sem palavras.

    *-*Clay1*-*

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  2. Clay1,
    Que foi?
    Gostou ou não?
    Bem... Você queria o beijo e a declaração!

    Acho que gostou!

    bjosmil! *.*

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  3. O sem palavras foi no bom sentido, e ahh também kkkkkkkkkkkkkk!

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  4. Foi tipo um AHHHHH de "Ahhhh! até q enfim!" e o sem palavaras foi tipo assim "emoção"


    PS: Foi mal por comentar duas vezes seguidas

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  5. owwwn! *.*
    Emocionei! Como sempre!
    Mto lindo Mita! Atu perfeita!

    Bjooos

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  6. Clay1,
    Ufa! Eu imaginei que era...
    E não se preocupe: Aqui não dá para editar depois de postar só jogar fora.

    Caroooooooooooooooooooooool
    .we. Fico feliz que tenha tocado você!
    Obrigada! =$

    Beijosmil! *.*

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