sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Puro Amor III

Em um milésimo de segundo, a lógica voltou a agir e observei haver muito mais por detrás da sua reação exagerada. Preocupado, falei:

– Desculpa-me, desejava saber como era o gosto e as sensações de um beijo. Não queria causar-lhe nenhum desconforto, nem te ofender, não era esta a minha intenção.


Sua voz doce estava trêmula, quando disse:

– Me perdoe Adam. Não precisava ter falado de forma tão cortante. Afinal... É só um beijo. Mas... – Havia tanta insegurança naquele “mas”, fiquei inquieto até ela completar – Há muito tempo eu não beijo ninguém, minha última experiência não foi das mais agradáveis. Não tem nada a ver com você.


– Racionalmente, sei que não preciso temer ou ficar nervosa quanto a isso. Deveria ver isso como um experimento científico... – Manteve um ar desolado ao concluir – No entanto, emocionalmente é muito difícil para mim.


Embora desejasse experimentar o sabor de um beijo, não queria constrangê-la ainda mais e disse:

– Não se preocupe, vou procurar descobrir mais sobre o gosto com a Eve. Ela estudou o polímero, deve ter pensado no sabor e em outros detalhes.


Mais calma, Ella lembrou:

– Mencionou algo sobre isso... Falou que achava o gosto da sua língua perfeito, tem um sabor mentolado. Só ficou em dúvida sobre a salivação. Na época não prestei muita atenção nisso. Talvez só precise mesmo simular um pouco de saliva.


Após sua observação, mudei o assunto e ficamos conversando por mais vinte e cinco minutos e dezenove segundos. Por fim, minha criadora se retirou para descansar. Queria voltar ao ritmo normal de trabalho e pretendia ajudar-me com os projetos da minha transformação, enquanto ainda tinha alguns dias livre.


No dia seguinte, fiz um email. A intenção era comunicar-me com a artista. Necessitava de mais detalhes sobre a minha língua artificial. Nos dados copiados do pendrive, não mencionava nada sobre sabor, gosto e aroma. Precisava da sua informação.


Coincidentemente, Eve me respondeu trinta segundos depois, mas de forma curta e resumida: “Faça sua inscrição no msn e msn-me. evewells@hotmail.com


Segui sua recomendação e fiz minha inscrição, em seguida a adicionei. Havia acabado de selecionar uma foto minha, quando recebi sua mensagem. Li a suas palavras com avidez e curiosidade.


London is The Best diz:

Eaí robozinho, agora tem até email e msn! Tá importante! Eu provei o gosto da sua língua antes de Ella adaptar os sensores. Era excelente! Não deve ter mudado... Você tem escovado os seus dentes?”


A princípio, não compreendi absolutamente nada. Não entendia o motivo de não usar o próprio nome e muito menos da pergunta sobre a escovação, dei uma resposta sincera. Observava a foto em sua janela, me remetendo a nossa ida à cachoeira. Eve me respondeu em seguida.


Conversamos por exatos quinze minutos, contudo, sanei todas as minhas dúvidas com a artista. Depois, me perguntou se Ella me contou sobre o Gil. Eu não precisava dizer-lhe todo o conteúdo da conversa. No entanto, notei sua necessidade em descobrir a minha impressão. Só tinha uma coisa a comentar: o Gilbert era um rapaz estúpido por deixar uma garota tão maravilhosa escapar.


Eve ficou satisfeita com minha resposta e se despediu. Antes, explicou ser melhor procurá-la sempre pelo msn, fosse para tirar dúvidas do polímero ou para conversar. A partir deste dia, começamos a nos comunicar frequentemente pela internet.


As tarefas diárias não cessavam. Passava boa parte do meu dia ajudando no trabalho. Cuidávamos da horta, limpando o mato a volta das plantas e falando a cada uma delas com voz doce e carinhosa. Era a melhor tarefa do meu dia.


Como prometido, minha criadora me ajudou com os projetos, introduzindo sua visão criativa em cada detalhe. Explicava todo novo implemento e dotava com o seu toque genial novidades nos sistemas sensoriais, as quais seria incapaz de desenvolver sozinho.


Passávamos algumas horas na biblioteca, cuidando da empresa. Ella me encarregou de um novo cliente de consultoria, meu primeiro projeto como seu sócio. Buscava concentrar-me na tarefa e desejava concluir o trabalho com perfeição. Almejava não decepcioná-la, por me oferecer mais esta oportunidade de crescimento.


Quando ficava no computador, deixava sempre o msn ligado. A intenção era estar disponível, caso Eve entrasse. Nossas conversas passaram a ser totalmente instrutivas. A artista selecionava literatura adequada na internet, para me ensinar como funcionava uma união física e tirava as minhas dúvidas.


Os dias passaram e se tornaram semanas. Entre as tarefas diárias, eu buscava manter o andamento dos projetos dentro do meu prazo original.


Após três semanas e cinco dias, o projeto estava praticamente finalizado, Eve viria em dois dias. Estava dando os retoques finais, quando o perfume de passiflora invadiu o escritório. Minha criadora estava parada ao meu lado.


Virei meu rosto em sua direção, buscando entender o motivo do seu silêncio, quando finalmente falou:

– Estive pensando... – A hesitação não era apenas em sua voz, seu olhar também estava hesitante, antes de completar – Você ainda precisa experimentar um beijo para o seu projeto?


Fiquei olhando para a mulher amada, tentando decifrar em seu semblante a intenção da sua pergunta. Eu adoraria ter esta experiência, e ao mesmo tempo, não havia necessidade alguma de beijar para finalizar o meu projeto. O beijo seria apenas para satisfação do meu desejo e curiosidade.


2 comentários:

  1. Ebaaaaaaaaaaaaaa!!!!! (espero q ela esteja falando dela e não de outra pessoa)
    Se for isso o Adam vai ficar tão felizz!



    *-*Clay1*-*

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  2. Oi Clay1!
    Pois é!
    Espero que este beijo seja mesmo com ela.
    Com certeza ele já está!

    bjosmil! *.*

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