quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Justiça II

Eve fez uma pausa por doze segundos, até afirmar:

– Eu não tinha certeza que era o doutorzinho. No dia da violência, achei ter sido obra de um dos carinhas com quem saía. Porém, a forma como ele me olhou... Fez meu corpo todo tremer de asco. Intuitivamente sabia quem era o facínora.


Mais uma vez a intuição sinalizava algo além do raciocínio lógico. Estava curioso para me inteirar sobre esta peculiaridade humana. Contudo, procurei não desviar a atenção do meu objetivo principal e perguntei:

– Como você conseguiu confirmar suas suspeitas?


A artista respondeu minha questão prontamente, prosseguindo em sua narrativa:

– No dia seguinte, Katie apareceu lá na República com a Samara. As duas faziam aula na mesma turma da Ella, com o tal professor. Eu não esperava um retorno dela em tão pouco tempo. Provavelmente, o receio de ser a próxima vítima a fez desejar resolver o caso rapidamente.


– De início, não entendi a razão da outra a acompanhar. Quando começou a falar, descobri o motivo, sua amiga estudava na universidade onde o Pietro dava aulas e conhecia a aluna assediada por ele. Sabia muito pouco, mas em resumo, a moça tinha péssima reputação e a acusação acabou se voltando contra ela.


– Eu estava um tanto decepcionada, não me esclareceu muita coisa. Mesmo assim, era suficiente para ficar de pé atrás com o doutorzinho. Indignada questionei porque não comentou isso com as outras alunas. Pelo menos deixaria a todas em alerta.


– Samara não tinha certeza de nada até ver o cara assediando Ella no corredor, procurou interferir desviando sua atenção. Não esperava a fuga da minha amiga para o banheiro. Pretendia sair com ela e oferecer uma carona, pois seu namorado estava prestes a chegar.


– Juntei os fatos e as datas, aconteceu tudo no mesmo dia. Agora, após o relato da Ella, consegui unir todas as partes, ficando tudo mais claro e óbvio. Naquele momento tudo o que consegui foi o telefone da amiga da Samara, para obter maiores detalhes sobre a acusação de assédio.


– Por fim, Katie se manifestou falando sobre uma irmã da sua fraternidade que havia saído várias vezes com o doutorzinho, mal ele chegou à Universidade. E achou muito estranho ela parar de comentar os encontros furtivos e inusitados com ele, talvez Hellen soubesse alguma coisa. Era um tiro no escuro, mas não deixava de ser uma pista.


– Aquela visita, embora não parecesse promissora, rendeu muitos frutos diante da minha insistência em investigar tudo. Liguei para a amiga da Samara assim que as duas saíram. Queria falar diretamente com a garota assediada e ela me garantiu providenciar o telefone dela, tão logo a encontrasse, eram apenas conhecidas.


Parei por um instante seu monólogo, pois me intrigava saber a opinião da minha criadora e questionei:

– E a Ella? O que falou sobre isso tudo?


Havia um pouco de frustração em sua resposta:

– Eu não comentei nada até ter certeza. Toda vez que tocava no assunto, Ella desconversava e começava a chorar. Não desejava a fazer sofrer ainda mais. No fundo, resistia a ideia de ouvir tudo dela. Eu era muito nova e não compreendia o valor de um desabafo verdadeiro. Ficava irritada com a sua imobilidade, por isso protelei o assunto até saber mais sobre o caso.


– Resolvi procurar a Hellen primeiro e só a encontrei dois dias depois, assim mesmo tive que ficar de plantão na fraternidade tri-ômega. Ela me recebeu bem e me levou até a sala comum para conversarmos. Eu não participava de nenhuma fraternidade, mas frequentava as festas e era bem recebida em todas as casas.


– Quando comecei a falar do doutorzinho, a garota quase enlouqueceu. Tapou os ouvidos e disse não querer escutar coisa alguma sobre ele. Já tinha se afastado dele e a seu favor só podia dizer que não sabia de nada quando o conheceu.


– Sua reação não me deixou dúvidas, Hellen era uma fonte de informações superior a Katie e a Samara juntas. Então, insisti na importância de me contar tudo sobre ele, para buscar uma forma de evitar que ele viesse a prejudicar outras pessoas.


– Ela começou se desculpando, mal o conhecia quando começaram a ter um caso. E me falou sobre uma irmã da fraternidade ter trancado a Universidade no início daquele mês. A preocupação era geral, pois a garota mal havia ingressado na fraternidade e antes estava bastante empolgada.


– Com a insistência da diretora da casa, acabou revelando ter sofrido abuso, só não contou quem havia sido. No dia de sua partida, chamou Hellen em seu quarto para contar sobre ter sido o Pietro o seu algoz e a aconselhou ficar longe dele. A jovem conseguiu se afastar facilmente, pois ele já havia enjoado dela.


– Depois de tudo o que Hellen me contou, eu não tinha dúvida sobre quem era o facínora a atacar Ella. Peguei o telefone da outra garota, seria meu próximo passo, antes de tocar no assunto com minha amiga. Precisava encontrar um meio de não magoá-la ao falar da outra moça.


– No dia seguinte, eu ainda não havia decidido a melhor maneira de abordar o assunto. Porém, recebi um telefonema inusitado lá na República. A aluna da outra Universidade, Amanda, tinha contratado um advogado e pretendia processar o Pietro por abuso. Se encontrasse outras jovens que sofreram o mesmo tipo de violência, teria mais chances de ganhar o caso.


– Estava revoltada com a reitoria, pois seu primeiro passo foi informar o Reitor sobre o ocorrido. Mas além da acusação ter se transformado em um simples caso de assédio, ainda distorceram os fatos em favor do doutorzinho. Era um homem de moral ilibada para todo o corpo docente.


– Completou dizendo que agradeceria toda e qualquer ajuda. Falou comigo desconfiada de ser eu a agredida pelo Pietro. Expliquei que apenas acreditava ter sido ele a fazer o mesmo a uma amiga. Pretendia conversar com ela antes, para ter certeza e a colocaria a par de tudo, em breve.


– Saber que outra pessoa já estava se preparando para processá-lo me incentivou a revelar tudo. Nem pensei muito quando fui ao quarto da Ella e a fiz sentar sobre a cama. Sem muitos rodeios, disse saber quem havia cometido a violência contra ela. Não precisava me dizer nada, apenas confirmar o nome e ouvir minhas descobertas.


2 comentários:

  1. ola carmita ;D começei a ler o seu blog essa semana... estou A-M-A-N-D-O!!!
    vc escreve muito bem!! adorei!! a história está ótima, mas eu fiquei morrendo de dó da ella D: tadinha

    Ansioso pra próxima atualização,
    André

    ----

    Se vc tiver um tempinho, entra no meu blog! a história ainda esta no começo, mais ainda vai melhorar!! A Facção: http://afaccao-andre.blogspot.com/

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  2. André...
    =$ Você já leu que AMO quando AMAM? =$
    Obrigada.
    Ella sofreu um bocado. Esperemos que de agora em diante sua vida seja plena de alegrias! :P

    Eu estava atualizando quando você postou!
    As atualizações acontecem toda quarta, sexta e domingo.

    Não prometo nada, pois ando mesmo enrolada. Mas assim que der eu vou lá olhar.

    Bjos mil, *.*

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