sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Revelações III

Fiquei sentado por alguns instantes tentando encaixar este fato. Acomodar meus sistemas e compreender como minha programação conseguiu estabelecer parâmetros tão intrincados de um sentimento absurdamente complexo.


A explicação biológica para a paixão não se encaixava em meu organismo formado de circuitos, pequenas engrenagens, exemplos do avanço da engenharia biomecânica. Hormônios não influenciam meu funcionamento. Desenvolver um aspecto tão característico do ser humano era atordoante e surpreendente.


Eu não tinha absolutamente nada a oferecer a Ella. Todo o meu corpo, programas, componentes e rede neural, tudo sempre foi de sua propriedade. Mesmo os meus sentimentos faziam parte da estrutura complexa de sua programação. Minha aparência pouco apreciável aos olhos humanos e a ausência de elementos inegavelmente fundamentais, impossibilitavam um relacionamento mais íntimo. A imagem da escultura no ateliê de Eve não saía da minha tela.


Resolvi ignorar o café da manhã. Decidido a ter alguma oportunidade para obter uma aproximação íntima e realizar o amor crescente em meu sistema, necessitava apressar minha metamorfose. Voltei à prancheta, havia inúmeras alterações a concretizar.


Estava há duas horas, doze minutos e cinco segundos resolvendo alguns problemas simples de refrigeração. Quando as duas entraram no escritório decididas a me levar para um banho de sol. Recusei-o, minha prioridade era readaptar meu sistema a um corpo mais adequado a conquistar a admiração da minha criadora.


As duas amigas passaram toda a manhã na praia, aproveitando o sol e o mar. Enquanto isso estava reestruturando a minha nova aparência. Havia muito trabalho a ser feito, se Ella fizesse estas modificações sozinha levaria mais dois meses para finalizar meu projeto. Provavelmente eu não estaria em funcionamento se minha criadora tivesse optado por esta aparência anteriormente.


Às quatorze horas, vinte e sete minutos e onze segundos, Eve parou ao meu lado. Enquanto sua amiga subia as escadas, me perguntou:

– Adam, Ella falou que estaria trabalhando em seu projeto de humanizar o visual. É verdade?


Olhei para o lado, sem parar o desenho e afirmei:

– Ella me conhece como ninguém, sabe como são meus procedimentos. Está correta.


A artista observava meu projeto e não estava disposta a encerrar o assunto:

– Nós conversamos muito sobre você esta manhã. Ella o tem em alta conta e acho que você precisa compreender alguns aspectos da minha amiga. – Sua última frase chamou minha atenção.


Larguei o desenho e levantei-me da cadeira disposto a conversar. Mesmo assim estava curioso e questionei:

– Ontem quando lhe perguntei, disse algo sobre respeitar sua intimidade e não poder me contar nada.


– Continuo afirmando o mesmo. O que vou lhe contar são minhas impressões sobre Ella antes de nos tornamos amigas.


Depois de sua explicação, começou sua narrativa:

– Quando a conheci, havia acabado de entrar na universidade. Tínhamos a mesma idade. Ella estava no seu terceiro ano, pois entrou precocemente devido a sua inteligência muito acima da média. O corpo docente a invejava, não só por ficar milionária antes mesmo de completar o curso, mas por seu conhecimento superior.


– Para o corpo discente, era um exemplo a ser seguido. Suas palestras na Universidade eram um acontecimento social, estavam sempre abarrotadas de alunos que gostariam de fazer fortunas e alcançar seu êxito profissional.


– No primeiro mês, notei o seu sucesso com os rapazes também. Sempre a achei especialmente bonita. Tem um tipo diferente de beleza, fora dos padrões da mídia. Seu maior atrativo é o olhar doce e carinhoso.


– Logo observei a curta duração de seus relacionamentos. Sempre havia um novo rapaz e mais belo a rondando. Não achava nada anormal, é natural uma jovem buscar diversão. Ainda mais uma garota bonita, inteligente e rica.


– Muitas vezes eles se aproximavam com a desculpa de precisar de ajuda nos estudos. Enquanto as outras garotas da República a invejavam, eu sentia uma admiração crescente por Ella.


– Principalmente por sua determinação. Entre estudos e namoros sempre tinha tempo para os seus projetos. A esta altura, seus robôs de vigilância eram muito requisitados e seu tempo livre era tomado pela sua dedicação ao pequeno negócio.


Eve olhou para mim comovida, quando disse:

– Eu a admirava muito. A intensidade com que se entregava a tudo o que fazia, em seus relacionamentos, nos estudos e no trabalho. Observava que no fundo ela era completamente solitária. Sempre que tentava uma aproximação, me perguntava o seu motivo para me evitar.


A interrompi e expliquei:

– Ella foi magoada na infância e adolescência por estar acima do peso. E você representava o tipo de garota que a reprovava.


A artista comentou:

– Na época, eu não tinha ideia desta história. Aliás, a impressão que eu tinha sobre seus relacionamentos com os rapazes era completamente errônea. Achava que era apenas diversão de uma garota segura de seus atrativos.


– No fundo, Ella se achava inadequada. Acreditava que estavam com ela apenas pra se aproveitarem e acabava por não se entregar completamente. Com isso, não conseguia manter um relacionamento por muito tempo. Sua insegurança acabava minando qualquer chance de felicidade.


Minha curiosidade imperou e precisei perguntar:

– Mas porque era tão insegura?


Eve respondeu apenas parte da questão:

– Pelo que sofreu na infância, adolescência e... – Fez uma pequena pausa antes de completar – Pergunte a Ella sobre o Gil. – Após esta frase disse: – Venha almoçar conosco. Eu vou embora logo após o almoço e não aceitarei um “não” como resposta.


Sem alternativa, a segui escada acima, com a minha rede neural abarrotada de questões. A experiência da minha criadora com o sexo oposto era superior a minha dedução inicial. Existia uma carência profunda de afeto em seu ser. Ao mesmo tempo, sua insegurança e medos a impediam de encontrar a felicidade.
Precisava saber urgentemente sobre seu relacionamento com o Gilbert.


3 comentários:

  1. Sério, eu achei a primeira imagem q ela tá beijando o carinha no fá achei q fosse o professor!:P E a Eve até pra tomar Sol, tem q ficar nua.
    Muito legal a atu, quando vai sair a próxima? :P

    *-*Clay1*-*

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  2. UAU, enfim consegui colocar a leitura em dia!!!
    O que dizer o diário está perfeito e pelas últimas revelações, Ella já fez sucesso entre os homens o que me deixa ainda mais curiosa para saber o que aconteceu.
    Bjkas
    Chris

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  3. Clay1
    Sério? O tal professor não foi nenhum dos namoricos dela!
    Menina, a Eve quer aproveitar que ali não tem niguém e ficar sem marca de biquíni.
    Domingo tem mais!

    Chris,
    Imagino que a volta às aulas te deixou ocupada.
    Ella tinha facilidade para encontrar parceiros... Mas daí a fazer sucesso foi só a impressão da Eve antes de conhecê-la direito.
    Mas realmente a gente fica a se perguntar quem é Ella? Tem muita coisa na vida dela que ainda está em descoberto.

    Obrigada meninas! =$
    bjos, mil! *.*

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