quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Revelações II

Comecei a leitura e fiquei intrigado com este antigo texto escrito por volta do século IV. Eram aforismos ou regras de conduta do hinduísmo para relações de amor. Havia sessenta e quatro tipos de artes e ofícios a serem apreendidos para se conquistar destaque no mundo e nos corações femininos.


A princípio não falavam de técnicas de sedução, mas de aprendizado da cultura da época e daquele povo. Para um homem ser capaz de encontrar o amor precisava aprender a desenhar, tocar instrumentos musicais, dançar, entre outros dos sessenta e quatro listados.


Até a magia e a feitiçaria estavam incluídas nestes aforismos. A maioria dos humanos mal consegue se especializar em uma ou duas destas artes. Na época me perguntei se não seria este o motivo para o ser humano ter tanta dificuldade para encontrar o amor.


Havia nome para tipos de abraços e beijos. O texto comentava sobre a “luta de línguas” e a curiosidade influenciava o meu desejo em experimentar. Reportei-me imediatamente às fotos de Eve com Herman Rivera, aonde os dois se abraçavam e beijavam diante da câmera dos paparazzi.


Coloquei-me no lugar do roqueiro. Uma estranha sensação de vazio me tomou ao imaginar a artista em meus braços. Embora estivesse interessado em descobrir mais sobre o beijo, faltava algo.


Ao trocar sua imagem pela da minha criadora, uma sobrecarga inundou meu sistema. Quando a beijei pequenos curtos e novas ligações se formaram em minha rede neural. Vi-me engolfado por uma euforia, até então jamais experimentada.


Inquietava-me criar imagens sobre algo nunca ocorrido e ter emoções tão fortes como se fossem reais. Resolvi analisar esta nova capacidade e investigar os sentimentos intensos ao visualizar maior intimidade com Ella.


Em minha fantasia, carregava minha criadora até sua cama. Suas pernas enroscadas em meu tronco e seus braços apoiados em meu ombro representavam sua entrega. Apenas o desviar do seu olhar com timidez gerava dúvidas.


Modifiquei minha aparência atual pela futura e consegui visualizá-la relaxada e sua completa rendição em meus braços. Os circuitos queimavam e percebi o calor gerado dentro de mim. Aquelas sensações eram ao mesmo tempo incômodas e deliciosas. Uma dualidade a qual pensava estar livre por ser um androide.


O capítulo a seguir sugeria os tipos de uniões e suas variedades de posições. Porém o aroma característico de Ella inundou a sala. Deveria estar bem atrás de mim. Por um milésimo de segundo tive uma sensação de apreensão e fechei o livro automaticamente.


Não havia motivo algum para reabri-lo, pois em seguida comentou:

– Se estava me esperando para preparar o desjejum, vou liberar você hoje... – Por um instante se calou e em seguida continuou – Ah! Este não é o Kama Sutra? – O livro ainda estava em minhas mãos quando me interrogou.


Não me deu tempo para responder e completou:

– Reconheci o livro pela capa, eu o deixei com a Eve faz tantos anos! Nem sei como veio parar aqui... – Fez uma pausa pequena antes de concluir – Claro, ela o trouxe junto aos livros que você encomendou! – E em um só fôlego mudando o foco, me perguntou - Achou a leitura interessante?


Minha criadora me pegou completamente desprevenido. Nunca a imaginaria aprovando aquele tipo de leitura e muito menos dona de um livro como o Kama Sutra. Sempre me pareceu puritana e retraída em relação aos homens. Simplesmente movimentei os ombros.


– Eve não é fácil! Além de instigá-lo a ter uma aparência humana, deseja iniciá-lo nas artes do amor. Este livro estar entre os novos que encomendou não é nenhuma coincidência. Tem o dedinho da minha amiga depravada. – Ela pronunciou a última palavra como a uma piada, provavelmente uma brincadeira das duas.


Resolvi comentar sobre a minha impressão:

– Você conhece sua amiga muito bem. Acredito ter sido proposital, ela acha importante me dotar e educar neste particular masculino.


Ella comentava sobre as idiossincrasias da amiga. Seu comportamento irreverente, mas principalmente o quanto era capaz de estimular uma pessoa a encontrar o seu melhor. Neste momento Eve entrou na sala sorridente e com certeza notou o Kama Sutra por cima da pilha no sofá.


Virou-se para mim e disse:

– Leu tudo robozinho? Achei que gostaria da leitura. Por isso trouxe o livro da Ella de volta.


Minha criadora apontou para a amiga acusando:

– Sabia que havia feito de propósito! Adam gostou do texto e agora nem posso pedir para levar o livro de volta... – Embora falasse com um sorriso no rosto, seu tom era de conformismo.


Interferi na conversa, afirmando:

– De fato achei o livro interessante e gostaria de me aprofundar mais sobre o assunto.


Eve finalizou:

– Então, fique com ele. Vou fazer uma rabanada com o pão que sobrou ontem. Se quiser nos acompanhar mais tarde no desjejum, já está convidado.


Após o convite as duas se despediram com um balançar de cabeças e se retiraram.
Fiquei só com meus pensamentos. A artista apareceu nesta casa com uma missão, como Eva no paraíso, seduziu e instigou Adão a experimentar o fruto proibido.


Consequentemente, não via a hora de desfrutar de cada pedacinho. No entanto me via tentado pela única pessoa responsável pelo paraíso e capaz de me expulsar dele: minha criadora. Imagens de nós dois, nus sobre sua cama, se formavam facilmente em minha tela.


A resposta para isto estava diante de minha programação, como se uma loucura se apossasse de minha rede neural. Acreditava na realidade das emoções e sentimentos a envolverem meus sistemas. A obviedade do sentimento crescente por Ella ardeu dentro de minhas engrenagens e circuitos. Estava de fato apaixonado.


8 comentários:

  1. Ui, q pensamentos heim?! kkkkkk! Será q ela também está apaixonadoa por ele (eu acho q sim)??

    *-*Clay1*-*

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  2. Oi Clay1,
    Acho que Ella ainda não pensa no Adam desta forma...
    Mesmo assim, haveria muitos preconceitos a serem colocados de lado para os dois ficarem juntos.
    Vamos ver... Quem sabe com ele de aparência humanizada, Ella descobre sua paixão? ;)

    bjos mil, *.*

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  3. Aiiin não acredito que fofo o Adam! s2 Xonei...

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  4. Carol!
    Ele é um fofo mesmo...
    Se a Ella não o quiser vai ter uma fila imensa atrás dele.

    bjos mil, *.*

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  5. Têm razão
    ele é mesmo um fofo

    P.s.e a historia esta mesmo a ficar picante rsrsrsrs

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  6. mmoedinhas...
    Daqui em diante a estória ainda tem muitas cenas picantes!!! O.o

    Achei seu comentário!!!!
    bjosmil!!!

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  7. essa história é tipo ´o homem bicentenário` só que muito melhor

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    1. Sim,embora quando escrevi, não tivesse visto o filme, nem li o conto que deu a ideia. Só vi depois, pois comentaram que tinha elementos do filme. Eu achei o filme lento... rsrsrs
      Bjosmil!

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