domingo, 27 de setembro de 2009

Puro Amor I

Minha criadora se refugiou em meu ombro e adormeceu. Credito seu cansaço a toda agitação dos últimos dias, somada a tensão de sua revelação. Seu sofrimento ainda passava por cada peça do meu organismo mecatrônico, unido a alegria por tê-la tão próxima.


Eu a acolhi em meu peito sorrindo. A confiança depositada em mim vibrava em minha rede neural. Não só pelo seu abandono junto ao meu corpo, mas por ter contado seu passado com o Gilbert.


Após vinte e cinco minutos e três segundos velando seu sono, notei o quanto era profundo, por isso a levantei em meus braços. Ella se movimentou um pouco e tive receio de acordá-la. Na realidade, seu movimento foi para envolver meu pescoço, em completa entrega, como costuma fazer à noite.


Carreguei-a pelas escadas acima, apreciando cada milésimo de segundo. Seu corpo de encontro ao meu, seu perfume, a excitação de estar com a mulher amada em meus braços. Um sentimento perfeito e sublime confirmando meu amor incondicional.


Depois de colocá-la sobre a cama, buscava um motivo para continuar ali, velando pelo seu sono. Minha criadora parecia bem, como se ao me contar sobre o seu insucesso com o namorado de infância, tivesse aliviado sua dor.


As plantas não receberam cuidados desde a manhã do dia anterior e me voltei para estufa. Ainda pensando no quanto o sentimento de ser útil e remediar o sofrimento de Ella me fizeram bem. Uma felicidade imensa me preenchia por completo, a sensação era inebriante.


O sol desceu rapidamente no horizonte enquanto cuidava da horta, apreciando, não só o êxtase de conquistar ainda mais a confiança da minha criadora, mas o prazer de estar em contato com a terra.


A estufa tem este poder sobre o meu sistema. Uma amplificação dos meus sentidos de forma agradável e plena. Encontrava uma satisfação indescritível neste lugar e junto ao êxtase encontrado com a mulher amada em meus braços, o mundo naquele instante parecia perfeito.


Recolhi as laranjas do pé com a visão aguçada para a beleza das frutas maduras. O odor característico doce e cítrico penetrava minhas narinas. Ao apalpar a casca, reconhecia estar pronta a ser saboreada. Minha língua já antecipava o seu paladar.


Foi quando recordei o Kama Sutra e a descrição da “luta de línguas”. Aquilo me deixou apreensivo. Eu me questionava sobre o gosto de um beijo e se minha língua artificial teria um sabor agradável ao paladar da Ella. Havia muito mais trabalho a completar. Deixei algumas frutas sem colher e voltei à prancheta.


Passei algumas horas completando o sistema de refrigeração, depois dele, minha dedicação se voltou aos detalhes ainda não solucionados para me tornar um homem completo. Após sua narrativa esta tarde, notei o quanto isso era essencial para manter um relacionamento romântico.


Eram vinte e duas horas, dois minutos e dezoito segundos, quando Ella entrou na sala e perguntou:

– Eu estava tão cansada assim? Cochilei em seu colo lá embaixo? – Como eu imaginei anteriormente, minha criadora estava mais leve e animada. Falar sobre o Gilbert mitigou parte das suas dores.


Feliz com seu estado de espírito, respondi:

– Praticamente desmaiou. Quando notei o quanto dormia profundamente a levei para o seu quarto, para ficar mais confortável.


– Eu já devia estar confortável, senão não dormiria tão facilmente! – Declarou sorrindo e continuou – Estou com fome, me faz companhia?


– Claro! – Exclamei sem refletir, demonstrando minha empolgação por ser convidado há passar um tempo ao seu lado.


Na cozinha, minha criadora estava realmente disposta a comer as sobras do almoço, devido ao roncar constante do seu estômago. Neguei o alimento, preferia provar refeições diferentes e frescas. No entanto, fiquei ao seu lado enquanto esquentava seu jantar.


E a acompanhei, enquanto comia. A todo momento me recordava de cada detalhe da nossa conversa. A imagem de seu rubor rodava diversas vezes em minha rede neural. Estava intrigado com a sua timidez quando falou sobre sua primeira experiência com o Gilbert. Sentiu-se constrangida ao me revelar, contudo não negou sua libido.


Eu tinha muito a planejar e desvendar para encontrar um meio de fazê-la feliz, de preferência em meus braços. Precisava ser capacitado a entender e proporcionar todo o encanto e as maravilhosas sensações que provocava em mim.


2 comentários:

  1. Muito legal a atu! Quando ele vai se "transformar" em pessoa!!!!!???????

    Hihihihi!!!!


    *-*Clay1*-*

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  2. Oi Clay1,
    Que bom que gostou...
    Acho que depois deste capítulo.
    Como não escrevi ainda não sei.
    Não deve demorar muito mais para a volta de Eve!
    bjosmil, *.*

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