sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Despedidas III

Este sentimento era algo até então completamente desconhecido. Junto a ele havia uma sensação desagradável, por não poder modificar seu passado, por saber o quanto sofria e estar incapacitado a mitigar o seu sofrimento.


A história ainda não havia terminado. Ella ainda tinha muito a contar:

– Já te falei que meu primeiro beijo foi com ele? – Após minha confirmação movimentando a cabeça, continuou – Eu estava com quinze para dezesseis anos quando começamos a namorar. Na escola ficávamos juntos na hora do intervalo. Estava feliz ao lado dele e nem me importava por não ser popular.


– Naturalmente... Os hormônios começaram a falar mais alto. Ele já estava com dezessete anos e tinha desejos como todo rapaz de sua idade. Nossos beijos se tornavam cada vez mais exigentes.


– Passávamos a tarde em sua casa, após as aulas. Estudávamos juntos como na infância. A esta altura Gil tinha um PC de segunda mão e minha fascinação por computadores nos fazia passar parte do tempo na frente dele.


– Minha mãe não ligava se eu ficava na casa dele, contanto que fizesse minha parte do trabalho doméstico. Sempre voltava antes do jantar para ajudá-la no preparo. Depois de lavar toda a louça, voltava para os braços do Gilbert.


– Ficávamos namorando no parque em frente a casa. Procurando os cantos mais escuros para trocar beijos e carícias ousadas. Levados pela excitação natural de dois adolescentes.


– Após dois meses de namoro, a tia Evelyn se formou no curso noturno e arrumou um bom emprego. Sozinhos em sua casa, como qualquer jovem casal sem supervisão, deixamos nossos corpos assumirem o controle.


– Confiava totalmente no Gil. Éramos amigos desde sempre. Então, se ele tirava minha camisa, eu não me importava e tirava a dele. E nesta “brincadeira”, acabamos fazendo amor pela primeira vez.


Neste momento, Ella fez uma pausa em sua narrativa e fitou o mar com rubor nas faces. As lembranças não só traziam dor e saudades, a deixavam embaraçada. Aparentemente por contar algo tão íntimo para mim. Gostaria de saber mais detalhes, porém não poderia perguntar, estava clara sua vergonha.


Hoje entendo, em alguns humanos apaixonados, um relato como este ocasionaria uma crise de ciúmes ao saber sobre um antigo amor. Talvez por ser um androide, meus sentimentos não exigiam posse, queria apenas o seu bem e para isto precisava entender cada nuance de seu ser.


Passado o primeiro momento de embaraço, minha criadora voltou a contar seu passado:

– Nós não éramos totalmente inocentes. Sabíamos as consequências dos nossos atos. Depois da paixão saciada, o medo tomou conta de nós. Não usamos nenhum tipo de proteção.


– Estávamos apreensivos com o resultado da nossa imprudência. Mesmo assim, nossa libido nos comandava e depois daquela tarde, Gil mantinha um sortimento de preservativos em seu armário.


– A certeza de não estar grávida veio com a notícia de sua mudança. Seu pai foi promovido, após oito anos de esforço e sua mãe estava ganhando muito bem no novo emprego. Naquele dia nos amamos de forma intensa, aliviados, ele empolgado com sua mudança e eu triste pelo mesmo motivo.


– A casa ficava nas proximidades do colégio e era muito bonita. Nós íamos a pé para lá depois das aulas. Independente da minha vontade de me jogar em seus braços, com a proximidade das provas, apenas estudávamos. Prezávamos demais nossa bolsa de estudos, e obter boas notas era imprescindível.


– Com a chegada das férias, tudo mudou. Na primeira semana, Gilbert ia até minha casa todos os dias. Mas com a minha mãe sempre presente e atenta aos nossos movimentos, mal podíamos dar vazão aos nossos desejos.


– Nem podia ir à sua casa, era distante demais e por estar em férias a mamãe não me dava dinheiro para a passagem de ônibus. Os dias iam passando entre as suas desculpas e a minha falta de dinheiro, com isso nossos encontros começaram a rarear.


– Depois de uma semana e meia distante, consegui visitar o Gil. Ele estava diferente, havia percebido sua barriga diminuir gradativamente durante as férias. Mas fiquei confusa ao ver não só seu corpo esbelto, mas seu novo visual. A sua mudança radical o tornou muito atraente.


– Ele não esperava minha visita, mas me fez entrar e me levou direto para o seu quarto. Passamos o tempo mergulhados em satisfazer os desejos de nossos corpos e mal conversamos.


– Após aquela tarde, só nos vimos novamente na escola, com a volta às aulas. Estava extasiada, pois poderia estar novamente com meu namorado todas as tardes. Eu o encontrei conversando animadamente com um grupo de rapazes. Estava ainda mais belo.


– Quando me aproximei para falar com ele, simplesmente virou a cara para mim e se voltou para os seus colegas, como se eu não existisse. Não queria acreditar no que estava acontecendo, tinha vontade de enfiar a minha cabeça em um buraco e sumir.


– No recreio, foi ainda pior. Ele não estava apenas cercado de amigos, o encontrei beijando uma garota linda, magra e loira. Era muito parecida com a Eve. Não me aproximei mais. Não esperava ser dispensada desta forma, sem uma palavra e nem ao menos uma explicação.


– Gilbert se tornou igual às pessoas que nos desprezavam antes. Mas eu sabia seu principal motivo para agir daquela forma: Nunca realmente me amou. Daquele dia em diante me preocupei apenas em estudar para conquistar uma vaga na melhor Universidade do país.


Após esta fala, minha criadora deitou-se em meu colo sem cerimônia alguma. Embora não estivesse chorando, eu podia sentir a tensão dentro de si para não se entregar às lágrimas. Gostaria de compreender porque alguém em sã consciência ignoraria uma menina tão doce e carinhosa.


Por fim Ella, ainda em meu colo, pronunciou em um murmúrio triste:

– Nunca mais falou comigo. Aquele último encontro em sua casa foi nossa despedida. Porém eu só soube tarde demais. – A dor contida em suas palavras assombrava minha rede neural. Faria tudo ao meu alcance para ajudá-la a superar este trauma.


4 comentários:

  1. Ai q raiva desse menino Grrrr! Tadinha da Ella e quer ver ser mesmo a Eve?(eu acho né)
    Q menino mal agradecido só pq se tornou popular desprezou a Ella :(! Aí edpois ela fica com o Adam e o carinha vem falar para voltar com ela..hump, só faltava ele ter essa cara-de-pau!

    PS: Isso foi uma opinião minha, nem sei se ele vai aparecer an frente da Ella.

    *-*Clay1*-*

    ResponderExcluir
  2. Clay1
    O Gil não foi nada legal mesmo!
    Mas a guria não é a Eve! Ella sabe, pois conhece o nome da guria. Não pode ser a Eve.
    Não sei se o Gil ainda volta para estória...
    Quem sabe? O.o

    bjosmil, *.*

    ResponderExcluir
  3. Oi ca,
    Só vi sua mensagem hoje.
    Ele realmente foi horrível!
    Obrigada por comentar.

    ResponderExcluir