quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Despedidas II

Buscava as palavras certas para entrar no assunto, quando ouvi sua voz doce e melódica:

– O que Eve foi conversar com você no escritório? – Sua questão abriu o espaço necessário para abordar a minha e aproveitei o ensejo.


– Contou o quanto a admirava antes de se tornarem amigas. Visualizava você como uma jovem bem-sucedida, por sua genialidade nos estudos e negócios, além de seus namoros com os rapazes mais bonitos da Universidade.


Olhou para mim espantada antes de comentar:

– Ah! Te falou o quanto eu era vulgar me esfregando com qualquer cara que me convidasse para sair...


Sua apreensão com o conteúdo da minha conversa com a artista era visível. No entanto, percebi haver uma decepção consigo mesma, culpa e julgamento por suas ações. Em seguida perguntou:

– Mas porque Eve te contou sobre parte do passado que prefiro esquecer?


– No meu entendimento, quis explicar-me o principal motivo de você não encontrar felicidade em seus relacionamentos e se retirar da sociedade: a sua insegurança. Segundo sua amiga, não lhe faltaram oportunidades, os rapazes só se afastavam por você não reconhecer seus próprios méritos.


– Eve me dá mais créditos que mereço. Nunca inspirei um grande amor! – Minha criadora acreditava realmente em sua última frase, mantendo uma grande mágoa dentro de seu ser. Estava prestes a retrucar dizendo ser falsa sua crença, pois me inspirava não só um grande amor, como uma imensa paixão.


Após uma fração de segundos, a lógica interrompeu meu impulso. Não era o momento certo para me declarar. Esperava, mesmo se não fosse recompensado no futuro por sua reciprocidade aos meus sentimentos, trazer linimento para sua dor.


Aquela frase final sugeriu a abertura esperada para a minha grande questão:

– O Gilbert não foi o seu grande amor?


Ella direcionou seu olhar triste para mim, antes de comentar:

– Se contar amor unilateral... Mas mesmo assim, havia entre nós mais uma amizade e alguma paixão, não sei se definiria como amor. Eu não o conhecia direito, esta é a verdade.


Precisava saber mais e com detalhes, então repliquei:

– Não compreendo. Gostaria de entender melhor a amizade e o namoro de vocês.


Apesar da insegurança em seu semblante, minha criadora estava pronta a me satisfazer:

– Certo, se está disposto a me ceder um pouco mais da sua tarde, vou contar tudo para você. – Explicou sorrindo, minha curiosidade a divertia.


– Eu já falei como ficamos amigos, não? – Apenas acenei um sim com a cabeça e Ella continuou – Os pais do Gil incentivavam nossa amizade, creio por ser eu muito estudiosa e adorar ler. Era um estímulo a mais para o filho deles se voltar para os estudos.


– Preocupado com o meu futuro e percebendo minha capacidade intelectual ser desperdiçada numa escola pública, o tio Andrew conversou com o meu pai e o convenceu a pedir uma bolsa no mesmo colégio do Gil.


– Papai, naquela época, ainda não havia se entregado ao alcoolismo. Embora fosse semianalfabeto queria o melhor para mim, ouviu as palavras dele e acolheu sua ideia. Após uma entrevista em nossa casa, o diretor me aceitou em sua escola com bolsa integral.


– Acabei estudando na mesma classe do Gil, apesar de ser um ano e meio mais velho que eu. Minha avaliação me encaminhou para uma turma dois anos avançada. Na volta da escola, estudávamos em sua casa, com o auxílio da Tia Evelyn.


– Passava mais tempo na casa dele que na minha própria. Gilbert tinha um quarto só para ele, alguns brinquedos e muitos livros. Tornando a sua casa muito atraente, principalmente depois do meu pai se entregar a bebida.


– Nós crescemos assim, unidos pelos estudos, pelas brincadeiras e gostos muito semelhantes. Havia companheirismo entre nós, acho até que impedíamos os outros de se aproximarem. Não só por tirarmos as melhores notas da turma, mas por acharem que formávamos um casal desde cedo.


– Quando entramos na adolescência, não éramos nada populares. Até nossa pobreza somava em nossa exclusão entre uma maioria privilegiada de alunos. Hoje acredito que ficamos juntos por falta de opção.


Estava claro para mim o quanto aquela afirmação a angustiava. Minha criadora gostaria muito de acreditar em sua última frase. Entretanto, esteve realmente apaixonada pelo Gil. Sentia seu sofrimento em todo o meu interior, em cada circuito, fio, engrenagem, na minha rede neural... Sua dor era a minha dor.


2 comentários:

  1. Ahhh, que tocante :') q fofinho o Adam, a Ella é uma garota de sorte!;D! Quando ele vai se declararrrrrrr???????To anciosa pra próxima atu!!!!!



    *-*Clay1*-*

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  2. Oi Clay1
    Menina a Ella tem mais sorte do que imagina, não é mesmo?
    Acho que ele só vai se declarar depois que ficar com uma aparência mais humana.
    Ele sabe esperar o momento certo. E não o deixa passar.

    bjos mil! *.*

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