Amado Adam,
Nem em meus mais loucos sonhos e delirantes fantasias imaginei um dia estar vivendo este amor tão pleno e recompensador.
Não vou mentir. Quando comecei a construir meu primeiro robô pensei que um dia eu pudesse apenas conviver com máquinas. Elas não me fariam sofrer, não me trariam dor ou me magoariam. Foi por isso que me esmerei tanto em construir um androide. Um ser capaz de suprir a ausência do contato com os seres da minha própria espécie. Pois só me traziam dores e decepção.
Eu realmente sentia falta do companheirismo e da amizade tão agradável que tive com o Gil na infância. Queria um ser que nunca pudesse me decepcionar e continuasse meu companheiro para sempre. Suprindo a ausência absurda do Gilbert em minha vida. Não consegui de fato superar sua deserção, me sentia como se eu nunca merecesse ser amada.
Não sei o que havia em mim na Universidade, depois de conseguir sucesso com meus robôs e ganhar dinheiro com minhas aplicações, resolvi cuidar um pouco mais da minha aparência. E de repente comecei a atrair os rapazes. Aquilo me seduziu por uns tempos, acabava me atirando de corpo no relacionamento, mas emocionalmente eu estava sempre afastada. Apavorada com a possibilidade de ser magoada novamente. Apesar de desejar amar, eu queria muito mais ser amada e aceita. Por que no fundo eu não me amava, não tinha autoestima. Nada sabia sobre o verdadeiro amor.
Quando aconteceu o incidente com o tal professor... Eu me fechei completamente. Teria me recolhido muito mais se Eve não tivesse aparecido em minha vida. Ela mostrou a importância de ter alguém, de manter o contato com a raça humana, o quanto é necessário ter uma pessoa com quem dividir e multiplicar os momentos da vida.
Ao me mudar para Ilha, minha obsessão por criar um companheiro que não me magoasse e ficasse sempre a minha disposição, foi se tornando ainda maior. A princípio eu não pensava em amor físico. O acontecido tinha destituído toda a minha sensualidade e eu canalizava minha libido para o trabalho.
Eu desejava mesmo era ter um ser a minha disposição e que fizesse tudo do jeito que eu queria. Quase um escravo do meu egoísmo. Minha aspiração era completamente doentia e egoica. E peço perdão a você por isso.
Claro, que com o passar dos anos a minha sensualidade foi despertando aos poucos. Não só pelas narrativas de conteúdo ousado da Eve, mas pelo meu corpo cicatrizar das feridas antigas. Devaneava com a ideia de como seria se eu tivesse um androide preparado para realizar todas as minhas fantasias.
Quando eu comecei a construí-lo, pensei apenas nas possibilidades a se descortinarem tendo o companheiro ideal. Mas tive medo de seguir em frente com os meus delírios e não lhe dei a imagem humana que tem agora. Meus temores eram maiores que os meus anseios. Mesmo assim, eu devo ter feito algo muito bom, ou talvez meu passado tenha despertado a bondade dos anjos.
Recebi uma dádiva magnífica quando despertou pela primeira vez. Seus olhos refletiam expressões para as quais não fora programado. De início fiquei empolgada com a situação e me recusei a ficar preocupada com aqueles sinais. Você foi tocado por um poder celestial e eu recebi minha bênção e absolvição.
Tenho muito a agradecer pelo que me foi concedido através de você. Algumas vezes penso se não errei em meu julgamento e se você não é algum anjo a ocupar esta forma artificial.
É claro, seu jeito gentil, inocente e confiante me reergueu, apagou a dor da perda do meu amigo de infância. As mágoas em relação à entrega do meu pai à bebida. O ressentimento profundo em relação a minha mãe por ser diferente do que eu desejava. A raiva que sentia de mim mesma, por me entregar tão facilmente aos rapazes na Universidade. E principalmente, apagou toda a culpa que eu sentia em relação à violência que sofri.
Você conseguiu me ensinar a ter autoestima, me mostrou que mereço amar e ser amada. Mostrou que dentro de nossas imperfeições podemos encontrar a perfeição que é ser humano.
Se um dia eu desejei construir um androide para atender minhas necessidades e caprichos, hoje eu só posso rir das minhas ideias ultrapassadas. Se um dia eu achei que conviver com um androide seria a opção mais fácil para me manter afastada dos outros seres, só posso observar que você acabou me aproximando mais da humanidade.
Então, posso dizer com felicidade e sem medo ou receio: Sou sua Adam, para atender todos os seus anseios e caprichos. E dedico minha vida a sua felicidade. Peço desculpas a você, por ser apenas uma humana e não poder viver ao seu lado para sempre. Mas se um dia esta dádiva me for concedida, é ao seu lado que desejo ficar. Para Sempre.
Tua Ella.
sábado, 12 de junho de 2010
domingo, 9 de maio de 2010
Feliz Dia das Mães!!!!
Este vídeo é só para lembrar qual é o maior presente de uma mãe: A felicidade de seu filho!
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Vídeo
Este vídeo é um resumo fotográfico da história do Adam e da Ella.
A música me inspirou durante todo o processo, é original da trilha sonora do Filme "Memórias de uma Gueixa" e foi a música do Epílogo.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Publicando uma Crítica...
Diários de Carmita
Paula Darriba
Já há algum tempo, em um tempo e em um espaço muito distinto deste, Gaston Bachelar referindo-se ao imaginário poético, afirmou que “a alegria de ler é o reflexo da alegria de escrever”.
Ainda bem que os clássico são eternos!!!
Tal afirmativa expressa com singularidade os momentos vividos enquanto leitora dos diários de Márcia Cristina (Carmita).
Como uma extensão de seu corpo poético, as histórias criadas pela artista são capazes de estabelecer um diálogo sublime com seu público. É exatamente aí, nesse vínculo de afeto e responsabilidade com os leitores, que reside a mágica desse processo ímpar de criação.
As narrativas e as interações processadas pelos personagens nos diários de Carmita podem equiparar-se as experiências vividas, à vida sonhada, mas também possível e experimentável por aqueles que nascem com as asas da imaginação e da liberdade.
Sua obra, como bem pontuaria Lacoste, é “a vida de que ela seria expressão relacionando-se com os estados psicológicos do homem: seus sentimentos, seu gosto e sua sensibilidade”.
Tal singularidade pode ser explicada pelo fato de Carmita experimentar e viver o ciberespaço de forma complexa, em submersão total e pode assim, caminhar além das possibilidades e recursos das ferramentas oferecidas pelo programa costurando interfaces com a refinada percepção que lhe é particular.
Paula Darriba é Mestre em Linguagens Visuais – Historiadora e Crítica de Arte pela Escola de Belas Artes da UFRJ.
Paula Darriba
Já há algum tempo, em um tempo e em um espaço muito distinto deste, Gaston Bachelar referindo-se ao imaginário poético, afirmou que “a alegria de ler é o reflexo da alegria de escrever”.
Ainda bem que os clássico são eternos!!!
Tal afirmativa expressa com singularidade os momentos vividos enquanto leitora dos diários de Márcia Cristina (Carmita).
Como uma extensão de seu corpo poético, as histórias criadas pela artista são capazes de estabelecer um diálogo sublime com seu público. É exatamente aí, nesse vínculo de afeto e responsabilidade com os leitores, que reside a mágica desse processo ímpar de criação.
As narrativas e as interações processadas pelos personagens nos diários de Carmita podem equiparar-se as experiências vividas, à vida sonhada, mas também possível e experimentável por aqueles que nascem com as asas da imaginação e da liberdade.
Sua obra, como bem pontuaria Lacoste, é “a vida de que ela seria expressão relacionando-se com os estados psicológicos do homem: seus sentimentos, seu gosto e sua sensibilidade”.
Tal singularidade pode ser explicada pelo fato de Carmita experimentar e viver o ciberespaço de forma complexa, em submersão total e pode assim, caminhar além das possibilidades e recursos das ferramentas oferecidas pelo programa costurando interfaces com a refinada percepção que lhe é particular.
Paula Darriba é Mestre em Linguagens Visuais – Historiadora e Crítica de Arte pela Escola de Belas Artes da UFRJ.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Epílogo













– Não abro mão de hospedá-los aqui! Tem muito espaço para todos e minha afilhada tem seu próprio quarto. Esta casa é tanto minha quanto de vocês.




















domingo, 17 de janeiro de 2010
Preparações e Comemorações III





– Elise, você não deveria estar aqui. Ella não vai gostar da sua presença. Se ainda sente algo por sua filha é melhor ir embora.

– Você deve ser o Adam. Eu não vim aqui para pedir nada, muito menos atrapalhar. Estou aqui porque gostaria de ver a minha única filha casar. Vou ficar de longe e sair logo após a cerimônia. Ella não precisa me ver.


– Minha filha deve ter contado sua versão dos fatos. Eu agi como uma megera na visão dela e não tiro sua razão. Eu tinha dezesseis anos ao me casar grávida de três meses. Estava totalmente despreparada para ter uma família. Isso não me perdoa pelas coisas que fiz. Mas saiba que hoje, olhando para trás, fico triste por ter perdido o respeito da única pessoa, realmente importante para mim.

– Quero apenas vê-la neste momento. Hector me contou sobre o casamento e me mandou o convite, nós nos comunicamos desde o divórcio e sempre peço notícias de nossa filha. Me falou que finalmente Ella estava feliz e eu precisava ver esta felicidade com os meus próprios olhos. Precisava ter certeza de que não estraguei a sua vida. – fez uma pequena pausa respirando fundo e disse – Eu prometo não me aproximar. Sou apenas uma mãe arrependida.

– Se a senhora pretende ficar distante e não arruinar a cerimônia, não vou pedir para se retirar. Compreenda, não o faço por você, quero apenas a felicidade da sua filha. – Afastei-me sem lhe dar oportunidade para responder.

– Eaí?! Tá pronto pro casório? Vim falar com a violinista, Ella já está pronta.

– A mãe da Ella está sentada do outro lado da praia. Hector lhe deu o seu convite.

– Esta mulher é sem noção! Não deveria ter vindo aqui. Hector deve ter bebido todas para lhe mandar o convite!

– É muito descaramento seu vir aqui justo hoje! Cumpra sua promessa e nunca mais coloque os pés nesta casa, nem apareça mais diante da minha amiga!

– Você deve ser Eve, Hector me falou que trata a Ella como a uma filha, embora tenham a mesma idade. Eu só posso te agradecer. Ella teve sorte de poder contar com uma amiga tão constante. Só peço que me permita este alento de ver o casamento da minha filha. É só o que desejo. Não vou me aproximar.


– Nem sei como te agradecer, Ani! Tudo foi organizado na última hora, uma sorte você ter se oferecido para tocar. Espero que sua família esteja bem, deve ser difícil se afastar deles assim.

– Eu nunca poderia faltar com você. – fez uma pausa antes de completar – Estão todos bem em casa e mandaram lembranças. Esperam ser agraciados com uma nova exposição sua, em nossa pequena cidade. Minha cunhada deseja expor mais dos seus maravilhosos quadros na galeria.

– Só no ano que vem, minha agenda está lotada. Vou tentar dar uma passada por lá e conversar com ela. Quem sabe minha exposição itinerante pode ir para lá? – e finalizou agradecendo – Mais uma vez obrigada, querida! A noiva já está pronta. Podemos começar?




– Este é meu bem mais precioso, hoje deixa de ser a minha princesa, mas espero que passe a ser sua rainha. – Eu não tinha palavras para responder. Meus olhos estavam voltados totalmente para a minha noiva.


– “Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.” – A partir deste trecho comentou a importância de se manter acessa esta chama e procurar sempre por ela para vencer os percalços da vida a dois.


– Pode beijar a noiva. – Eu a beijei sem titubear, sob os aplausos dos nossos amigos.



– Porque veio? Não vou te dar mais nada. Se estiver aqui buscando arrancar mais alguma coisa de mim, pode ir embora agora mesmo!

– Não vim por causa do seu dinheiro. Eu aprendi com meus erros. Tenho o meu próprio buffet e juntei o suficiente para lhe devolver o seu empréstimo com juros. Me envergonho pelo que fiz no passado e desejo apenas o seu perdão.

– E porque veio aqui justo hoje? No dia que deveria ser repleto de felicidade para mim?

– Por que apesar dos meus erros, sou sua mãe e a amo. Desejava ver com meus próprios olhos se havia amor no seu casamento, ter certeza que seria feliz. Agradeço esta oportunidade e espero realmente que possa me perdoar um dia.

– Hoje é um dia importante para mim e não quero guardar ressentimentos. Vou aceitar sua presença. – respirou fundo e concluiu – Não desejo o seu dinheiro, aplique em seu negócio. Mas não posso te dar meu perdão ainda. Preciso de um tempo para te chamar de mãe novamente.

– Isso é muito mais do que eu mereço minha filha. Um dia espero conquistar seu respeito novamente.


– Eve não me pediu para estar aqui hoje, apenas disse o quanto você amava a minha música. Nunca mencionou isso sobre nenhuma outra pessoa e logo notei o quão especial você é para ela. Por isso me ofereci para tocar no seu casamento. Estou muito feliz de ter vindo e presenciado este lindo amor emanando de vocês.

– Eu me sinto honrada por inspirar tamanha amizade, nunca fiz nada especial para merecê-la. E ainda mais honrada por estar diante de você agora. Quando Eve falou que a conhecia pessoalmente fiquei muito empolgada e a perturbei por uma semana no msn. Obrigada por vir e tocar sua "Sonata de Amor"!





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